7 de novembro. O dia em que um processo judicial, materializado nas buscas em São Bento e nas residências de ministros, abalou o país. Em poucas horas, o primeiro-ministro demitiu-se e, dois dias depois, o Presidente da República dissolveu o Governo e convocou eleições. Desde então, o Ministério Público e a Operação Influencer estão no centro do debate.
Ferro Rodrigues, ex-presidente da Assembleia da República e antigo secretário-geral do Partido Socialista (PS), foi um dos últimos a comentar o assunto, em entrevista ao Observador, enfatizando que há um clima de desconfiança no Ministério Público (MP), que terá tido uma reação precipitada.
Bernardo Ferrão, diretor-adjunto de informação da SIC, diz que a queda do Governo vem de uma decisão de António Costa. E que o famoso parágrafo - que mencionou a investigação a António Costa - tinha mesmo de ser escrito pela procuradora-geral da República.
“A culpa, se é que faz sentido falar em culpa, não pode ser atribuída ao Presidente da República. A decisão [de demissão] foi tomada por António Costa, que percebeu que, antes daquele parágrafo, haviam muitos outros parágrafos. Ainda não se sabia, por exemplo, que no escritório do chefe do gabinete do primeiro-ministro havia dinheiro vivo escondido. O que é que a PGR podia fazer? Omitir, mandar arquivar? Que consequências é que haveria se fizesse isto”, questionou.
Ainda assim, o jornalista realça que “toda esta novela que se está a construir a volta do tal parágrafo não diz nada às pessoas”.
“MP foi humilhado”
Já Ricardo Costa, diretor de informação da SIC, subscreve as palavras de Ferro Rodrigues: foi o Ministério Público a derrubar o Governo. Além disso, o jornalista diz que este é um processo judicial “que nasceu torto” e que o MP acabou “humilhado”.
“Ferro Rodrigues acha que esta é uma espécie de segunda vez que o Ministério Público afeta diretamente o PS [depois do caso Casa Pia]. É um partido que vai para eleições marcado por um processo judicial que nasceu torto. A PGR tinha de escrever o parágrafo, mas poderia não permitir que o caso avançasse para detenções e buscas quando não tinham indícios suficientes para isso. Foi um caso que se precipitou, de forma a que o MP foi humilhado pelo juiz de instrução criminal”.