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Entrevista SIC Notícias

"Estamos a assistir a um excesso de mortalidade acima do normal"

Miguel Castanho, investigador do Instituto de Medicina Molecular, aponta para fatores que explicam os números elevados de mortalidade a que temos assistido nas últimas semanas.

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Portugal vai manter um excesso de mortalidade acima dos 45 anos pelo menos até à próxima semana, mas o pico ainda não foi atingido. O aviso é da Direção-Geral da Saúde. O investigador Miguel Castanho diz que "estamos a assistir a um excesso de mortalidade acima do normal" e aponta para fatores que explicam os números elevados de mortalidade a que temos assistido nas últimas semanas.

"A tendência vem de trás e vem das últimas semanas do ano passado e aquilo que explica é a ocorrência deste surto epidémico de gripe A. É claro que quando falamos de mortalidade, estamos a falar do somatório de todos os fatores que contribuem para a mortalidade", começa por referir o investigador do Instituto de Medicina Molecular.

Miguel Castanho sublinha que esta situação não é inédita: "Já tivemos outros outros anos em que aconteceram problemas com a gripe. O que acontece é que depois da pandemia houve uma certa desvalorização da gripe quando se disse que o Sars-CoV-2 passava a ser parecido com o vírus da gripe e houve nessa altura alguma subestimação daquilo que é o efeito da gripe, mas todos os invernos, sobretudo quando é gripe A, a gripe A tem maior potencial de contágio, estamos sob este risco".

Mortalidade acima do normal

Entre 1 e 7 de janeiro morreram 3.401 pessoas. O número de óbitos diários em Portugal começou a subir no final de dezembro e na primeira semana deste ano, morreram em média 486 pessoas por dia. Números semelhantes na mesma altura nos último anos, só em 2021 e em 2017.

Miguel Castanho diz que "estamos a assistir a um excesso de mortalidade acima do normal" e recua ao período da pandemia.

"Na pandemia obviamente foram anos atípicos. Se atendermos a tudo o que aconteceu para trás, nós vemos um aumento da mortalidade, todos os invernos. Isso isso faz parte da nossa dinâmica e da nosso convívio com o ambiente, enfim, de uma conjugação de fatores".

“O facto de de nos termos protegido muito durante os anos da pandemia, pode estar a contribuir também para este pico, para estas ocorrências, acima do esperado, mas isso não explica tudo, enfim, o vírus não explica tudo”, destaca.

"O cenário ideal era ter 100% das pessoas vacinadas"

Em relação à questão da vacinação, este ano abaixo do recomendado, Miguel Castanho sublinha que "tem sido feito um grande apelo para a vacinação e é bem feito e deve ser feito, mas também devemos ter presente que a eficácia da vacina da gripe não é, por exemplo, a eficácia da vacina da covid-19 e, portanto, há limites para que para a cobertura que a vacinação faz para a situação atual".

O investigador explica que existem vários países que recomendam a vacinação para toda a população, exceto a bebés, por exemplo, como é o caso dos Estados Unidos, e que "o cenário ideal era ter 100% das pessoas vacinadas", mas, ainda assim:

"Para a vacina da gripe não estamos a falar do nível de eficácia que estamos a falar para a vacina da covid-19 e, portanto, além da vacinação que deve ser tão extensa quanto possível e os apelos à vacinação devem devem ser feitos. São muito bem feitos e as pessoas devem vacinar-se. É preciso ter mais cuidados do que isso", realça o investigador, lembrando alguns ensinamentos do tempo da pandemia e uso da máscara em determinadas situações, com medidas como a que está a ser posta em prática em Espanha.