A tosquia chegou a ser uma importante fonte de rendimento para os criadores de gado, mas hoje, com os materiais sintéticos, e a moda descartável, transformou-se num prejuízo. Tem de ser feita e não é barata, mas já ninguém compra a lã como antigamente.
Com a chegada do tempo mais quente é preciso cuidar do bem estar animal. Tosquiar rebanhos é essencial para os criadores de ovinos, mas significa hoje em dia um prejuízo bastante avultado.
"Hoje em dia já nem temos retribuição do custo que temos com o corte da lã", garantiu António Lopes, criador de ovinos.
"Para terem uma ideia os nossos produtores pagam cerca de um euro e 60 para tosquiar os animais e recebem pouco mais do que 20 cêntimos pela lã de cada ovelha", acrescentou Ricardo Estrela, presidente da Ovibeira.
Para cuidar de quase 70 mil animais em toda a beira baixa, mas não só, a Ovibeira - Associação de produtores agropecuários- implementou de há uns anos para cá um serviço de tosquia com brigadas vindas dos estrangeiro. São sobretudo uruguaios que, devido à falta de mão de obra nacional dão uma resposta que minimiza as perdas, mas não resolve todos os problemas.
Carlos Gerez e os seus companheiros são tosquiadores de elite, só precisam de dois minutos por animal e cuidam do armazenamento da lã, um serviço chave na mão.
Contudo, ainda que cuidadas as ovelhas, os produtores continuam sem respostas para o aproveitamento de um bem tão valorizado noutros tempos, mas que hoje não se consegue escoar.
"Estamos perante um problema muito grande e era muito bom que o atual Governo conseguisse resolver", garantiu Ricardo Estrela.
No final de cada campanha sobram toneladas de lã e falta interesse por esta matéria prima de excelência, seja em Portugal ou no estrangeiro.
"Houve uma altura que nos mandaram escavar um buraco e enterrar a lã na terra", confessou António Lopes.
"Neste momento a lã nacional continua a ir alguma dela para Espanha, portanto vai se dando alguma vazão, mas a preços absolutamente insignificantes", disse Ricardo Estrela.
A tosquia arrancou com a primavera e até chegar o verão os ovinos têm que ficar em condições de aguentar altas temperaturas de forma mais cómoda.
Para os criadores o interesse é que o paradigma se inverta e que a lã passe a ser uma fonte de rendimento e não de prejuízo num setor muito marcado nos últimos anos pela seca e o aumento generalizado de todos os fatores de produção.