A Associação Coração Silenciado, que representa as vítimas de abuso na Igreja Católica, contesta o critério dos bispos portugueses para atribuição de "compensações financeiras". A associação fala numa “tabela de preços do sofrimento”, em que é avaliado caso a caso o dano provocado.
Depois de ter estado reunida com a presidência da Conferência Episcopal Portuguesa, a associação expõe críticas à forma e ao método escolhidos para a atribuição das compensações financeiras às vítimas. A associação contesta que as vítimas tenham de expor os casos individualmente, explicando os tipos de abuso de que foram alvo. Considera que isso será uma “revitimização” para quem já sobreviveu a esta realidade.
“É preciso evitar, de uma vez por todas, a revitimização dos sobreviventes, o "remexer nas memórias", pois o processo, como neste momento está estabelecido, determina que cada sobrevivente tenha de redigir uma carta a indicar, de forma sucinta, o abuso que sofreu, quando isso já consta no processo de denúncia.”
Apesar de assinalarem a evolução feita pela Igreja, que já concordou em atribuir compensações financeiras (depois de, no passado, ter chegado a afirmar que estas seriam “insultosas”), as vítimas discordam que estas sejam concedidas a partir de um "cálculo da 'qualidade' dos traumas”.
“Ao termos de justificar à nova comissão, criada para avaliar o impacto que o abuso teve nas nossas vidas, seremos então mais um número sem rosto, sujeitos a uma "tabela de preços" do sofrimento”, lamentam.
A Associação Coração Silenciado considera que todas as vítimas deveriam ter um tratamento igualitário (sublinhando que o princípio da Igreja é "amai-vos uns aos outros", e não "amai-vos uns aos outros, mas mais uns do que outros").
A associação lamenta também que já tenham sido destruídos todos os dados do relatório feito pela comissão independente, afirmando ser “frustrante” saber que o trabalho da comissão não teve como objetivo “ajudar e acompanhar as vítimas”.
É ainda pedido que a Igreja fale a uma só voz e que divulgue “de forma simples e clara”, através de uma campanha nos meios de comunicação social, os contactos necessários para que todos aqueles que pretendem ser compensados sejam incluídos.