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Médicos cumprem 2.º dia de greve, paralisação afeta consultas e cirurgias programadas

No segundo dia de greve dos médicos o impacto a sentir-se, mais uma vez, nas consultas e cirurgias programadas. Os profissionais querem negociar aumentos e a reposição das 35 horas semanais de trabalho. A FNAM promete endurecer a luta caso o governo não dê resposta às reivindicações.

Médicos cumprem 2.º dia de greve, paralisação afeta consultas e cirurgias programadas
FILIPE AMORIM

Os médicos cumprem, esta quarta-feira, o segundo dia de greve. Convocada pela Federação Nacional dos Médicos (FNAM), a paralisação continua a provocar constrangimentos nos hospitais de todo o país.

No Porto, o hospital de Santo António e o São João só tiveram um bloco operatório a funcionar e no IPO estiveram 2 das 8 salas de cirurgia.

"Venho de Penafiel aqui para o Porto e é sempre complicado porque sai-se muito cedo e chegasse muito tarde", explica uma das pessoas que se dirigiu ao hospital de São João e teve a sua consulta adiada.
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A greve tem afetado, sobretudo, hospitais no Norte e Centro do país, mas na manhã desta quarta-feira, em Lisboa, a situação foi semelhante. Há quem tenha chegado ao Hospital de Santa Maria, mas não conseguiu ser atendido.

"Vim para fazer um exame ás partes moles e disseram-me que o médico fez greve e para eu esperar em casa que me vão enviar outro agendamento", contou um utente que tinha consultada marcada no hospital de Santa Maria.

Para os médicos esta é uma luta pelo serviço nacional de saúde e pelos utentes: "assistimos todos os dias a colegas que saem do Serviço Nacional de Saúde para o privado, para a imigração, temos colegas recém especialistas que estão a aguardar colocação. O trabalho para quem fica é sempre mais e é isso que nós vemos todos os dias nas urgências, nas consultas, nas cirurgias até porque se não temos médicos de família para toda a população, as pessoas acabam por ter de recorrer às urgências para verem os seus problemas resolvidos e isto não são cuidados de qualidade", explica Tânia Russo, médica.

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Sem negociações, médicos garantem novas paralisações

A FNAMlembra que o aumento intercalar de 15% conseguido na última legislatura foi um mau acordo e que não tem um impacto em todos os profissionais.

"O aumento, na realidade, não foi de 15%, uma vez que inclui também o aumento geral que houve para a administração pública e houve, aliás, médicos que não tiveram qualquer aumento, nomeadamente os médicos que tinham contratos anteriores a 2013", explica Joana Bordalo e Sá, presidente da FNAM.

O sindicato promete endurecer a luta caso o governo não dê sinais de querer negociar a tabela salarial. Em causa estão também medidas que poderiam fixar mais médicos no SNS como reduzir o horário de trabalho para as 35 horas semanais e incluir os internos na carreira médica.

Caso o Ministério da Saúde não esteja aberto a negociar, a FNAM garante novas paralisações.

"Nós até outubro, novembro, até à altura do orçamento da adjudicação do orçamento queremos a discussão clara com o governo (…) Não aceitamos que gozem connosco (…) temos de discutir com o Governo antes da aprovação do Orçamento do Estado", disse João Proença, vice-presidente da FNAM.

Durante estes dois dias de greve foram assegurados os serviços mínimos e os de urgência. Até dia ao dia 31 de agosto mantém-se a greve dos médico ao trabalho suplementar, nos centros de saúde.

FNAM aponta para 75% de adesão, mas tutela fala em 31%

​​A FNAM estimou esta quarta-feira que adesão à greve dos médicos esteja nos 75%, enquanto o Ministério da Saúde aponta para uma participação de 31,3% no primeiro dia.

"O balanço à adesão foi bastante elevado, portanto, ontem foi 70%, hoje estamos na ordem dos 80%, até houve uma adesão mais elevada em alguns locais, portanto, o balanço final destes dois dias é de 75%", disse à Lusa a presidente da FNAM.

Em resposta à agência, o Ministério do Saúde referiu que "os dados preliminares", referentes a terça-feira, "indicam uma adesão de 31,3%, entre as 26 Unidades Locais de Saúde (ULS) e Institutos Portugueses de Oncologia (IPO) já apurados".

"No que se refere a consultas médicas, o Ministério da Saúde tem a indicação de que 75,1% das consultas programadas para 23 de julho foram realizadas, enquanto ao nível das cirurgias foi praticada 50% da atividade programada", acrescentou.

Com Lusa