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Entrevista SIC Notícias

"Revolta" e "indignação": Coração Silenciado critica regras para compensações financeiras às vítimas de abusos sexuais na Igreja

António Grosso, porta-voz da associação Coração Silenciado, considera que "não faz sentido" que as compensações financeiras sejam avaliadas caso a caso. "Não há jurista nem psicólogo que possa com objetividade dizer que a vítima A sofreu mais que a vítima B", afirma.

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António Grosso, porta-voz da associação Coração Silenciado, critica o regulamento para as compensações financeiras às vitimas de abusos sexuais na Igreja Católica. O responsável olha para o documento, que diz retratar "falta de humildade", com "grande indignação" e revolta. Na SIC Notícias, diz que não faz sentido que as compensações sejam avaliadas caso a caso.

A Igreja Católica divulgou, na quinta-feira, as regras para atribuição de compensações financeiras às vítimas de abusos sexuais. Os pedidos vão ser analisados por duas comissões e as vítimas terão de voltar a contar - de forma mais detalhada - os abusos. O valor será "proporcional à gravidade do dano".

Para o porta-voz da associação que representa as vítimas, é "revoltante" e de uma "grande indignação". Na SIC Notícias, António Grosso critica a "violência" a que as vítimas vão ser sujeitas ao pedirem a compensação pelos abusos.

"[As vítimas] Vão ser julgadas, submetidas a uma apreciação psicológica. Vão ter de contar a história (...). A seguir, vão ter de voltar a remexer nas memórias", denuncia o porta-voz da associação, acrescentando que a maior parte das pessoas vai desistir por "não estar disposta a isso".

A Coração Silenciado vai reunir para definir uma estratégia para impedir que as vítimas sejam "violentadas" ao pedir a compensação.

"A Igreja devia assumir a responsabilidade porque sabe que fez encobrimento de situações durante décadas", considera António Grosso.

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"Não há jurista nem psicólogo que possa dizer que a vítima A sofreu mais que a vítima B"

António Grosso considera que os responsáveis pelas regras estão "muito pouco preocupados com as vítimas" e, em vez disso, "apontam baterias" aos abusadores. "Pedia-se igualdade, simplicidade, fraternidade", diz.

Para o responsável, "não faz sentido" que as compensações financeiras sejam avaliadas caso a caso.

"Não há jurista nem psicólogo que possa com objetividade dizer que a vítima A sofreu mais que a vítima B", exemplifica.

António Grosso dá como "bom exemplo" a Suíça: 12.500 vítimas foram indemnizadas por "igual importância e hoje fazem convívios anuais em irmandade e fraternidade e não olhando para o lado".

"A Igreja está a contribuir para a inveja e para a desigualdade quando devia simplesmente seguir o princípio da própria igreja", afirma.