O comentador da SIC, Paulo Baldaia, acredita que o Chega sabe que o referendo à imigração que propõe nunca será aprovado no Parlamento e que André Ventura apresenta esta proposta apenas "porque quer que se fale do tema que é uma bandeira do partido".
Numa nota publicada no site da Presidência, Marcelo Rebelo de Sousa reforça que não falou sobre o referendo à imigração proposto pelo Chega e que não podia fazê-lo, de acordo com a Constituição.
O Presidente respondeu que é preciso perceber a diferença entre a realidade e as narrativas. Em seguida, desmontou a tese de que há um problema de imigração.
Paulo Baldeia considera que, com estas palavras, o Presidente da República dá a entender que, caso lhe chegue às mãos uma proposta de referendo, "não vai avançar com ela".
"Desse ponto de vista, Marcelo faz o que melhor sabe fazer que é dizer sem ter dito diretamente", aponta.
O comentador acredita que André Ventura sabe que este referendo "nunca será realizado" porque "não tem, no Parlamento, os votos suficientes para avançar".
Ainda assim, prossegue, o líder do Chega faz esta proposta, "não convencido que pode ter um referendo à imigração, mas porque quer que se fale do tema que é uma bandeira do partido".
Paulo Baldaia afirma que o Chega "está a 'lincar'" esta proposta à hipótese de ser o Chega a viabilizar o Orçamento do Estado.
"Portanto, está, de certa maneira, a colocar-se de fora da negociação do Orçamento porque, em entrevista ao Expresso, o líder parlamentar do PSD deixou muito claro que uma coisa não tem a ver com outra e que o PSD não aprovaria este referendo", faz notar.
Chega está "numa situação muito desconfortável"
O jornalista entende que Ventura e o seu partido "estão, neste momento, numa situação muito desconfortável":
"André Ventura está habituado a ser o centro da das atenções e agora está a ser novamente, é verdade, mas do ponto de vista político ele perdeu força e, portanto, está muito nervoso desde os resultados das últimas europeias, em que o chega teve uma queda muito significativa face aos resultados meses antes nas legislativas e, portanto, está a procurar estar sempre na crista da onda para tentar recuperar algum protagonismo que foi perdendo".
Paulo Baldaia frisa que o tema "não é fácil" e que Marcelo Rebelo de Sousa "utilizou argumentos que "são arriscados" porque ao "fazer a divisão entre o tipo de migrantes está a fazer o jogo do Chega".
"Estamos a falar de seres humanos e, portanto, não, não podemos estar a distinguir quem fala português ou quem não fala português", refere o comentador antes de dizer que, em Portugal, "não há um problema de imigração", mas sim "um problema de integração dos imigrantes".
"Esse sim é um problema e não é um problema que tem de ser resolvido pelos imigrantes em exclusivo. Tem de ser resolvido pela sociedade toda, por nós portugueses que, obviamente, devemos estar agradecidos por essas pessoas ajudarem a desenvolver a economia, mas temos também obrigações de os acolher, de lhes dar condições, de ter o Estado a responder a tempo e horas na burocracia, aquilo que exige aos próprios imigrantes, dar condições de dignidade de habitação - não apenas para os emigrantes, mas também para os portugueses", declara.
Imigrantes "ajudam a economia a funcionar"
Explica ainda que os imigrantes "estão em Portugal para trabalhar" e, se não houver emprego, "não querem estar" no país, pelo que garante ser essencial ajudar as pessoas que chegam ao território nacional da mesma forma que elas "ajudam a economia a funcionar".
Sobre a aprovação do Orçamento do Estado, o jornalista reconhece que "tem de ser o PSD e o PS a encontrarem-se", frisando que "a obrigação principal é, obviamente, de quem de quem está no Governo e não tem uma maioria parlamentar".
Apesar de reconhecer que o PS "tem estado numa grande cacofonia", devido ao facto de "toda a gente achar que deve dar a sua opinião pública sobre o que fazer", acusa os socialistas de não dizerem de forma clara "quais são as condições em que aceitam viabilizar um Orçamento".
"Já percebemos que o Partido Socialista não vai votar a favor, quanto muito vai abster-se, mas para se abster, quais são as condições? (...) Se o Partido Socialista não for capaz de dizer em que condições aceita, acabará por ser responsabilizado pelo resultado desta negociação", remata.