País

"Fuga foi uma vergonha para os guardas do estabelecimento de Vale de Judeus"

Um dos guardas prisionais que estava ao serviço durante a fuga de Vale de Judeus diz que o comportamento dos guardas foi exemplar dadas as condições da prisão. Com os fugitivos a monte, os profissionais temem pela própria segurança.

Loading...

Passaram-se mais de 72 horas desde a fuga da prisão até às primeiras palavras públicas da ministra da Justiça, Rita Júdice. O primeiro-ministro, Luís Montenegro, diz que foi o tempo necessário.

“Não tenho dúvidas nenhumas que Portugal é um dos países mais seguros do mundo. É um processo lamentável, que não devia ter acontecido. Creio que a ministra foi particularmente eficiente”, afirma o chefe de Governo.

Quebrado o silêncio, a ministra da Justiça prometeu não hesitar. Se for necessário, apuradas as falhas, garante que vai avançar com processos disciplinares. “Vimos desleixo, vimos facilidade, vimos irresponsabilidade e vimos falta de comando”, atirou Rita Júdice.

As críticas da ministra são, no entanto, recusadas pela associação sindical que representa as chefias da Guarda Prisional.

“Não nos revemos nos adjetivos que ela utilizou. Os guardas prisionais são o fim da cadeia e lidam com as decisões que emanam da tutela superior. Nós limitamo-nos a ser executantes”, afirma Hermínio Barradas.

“Há falta de comando nas cadeias”

Na cadeia de Vale de Judeus estavam, no momento da fuga, 33 guardas prisionais, mais dois com funções de chefia.

“Há falta de comando nas cadeias portuguesas. (…) As fragilidades que a senhora ministra aponta é a gestão dos recursos humanos que temos que são escassos, mas aqui a culpa é dos Governos”, realça Frederico Morais, do Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional, que diz faltar 1.500 guardas prisionais no país.

Sérgio Brilhante, um dos guardas que estava ao serviço durante a fuga, diz que o comportamento dos profissionais foi exemplar dadas as condições da prisão.

"Para os guardas do estabelecimento de Vale de Judeus esta fuga foi uma vergonha. Já tínhamos anunciado as fragilidades, a falta de segurança que o EP tinha. A partir do momento em que alguém decidiu desativar e destruir as torres de vigilância, os muros passaram a ser uns muros comuns. Telemóveis para nós é um problema diário, apreendem-se muitos telemóveis por estabelecimento todos os anos".

Com os fugitivos a monte, os guardas que continuam a trabalhar na cadeia temem também pela própria segurança.

“Quem nos diz a nós que um desses reclusos com quem trabalhávamos no dia-a-dia não nos quer fazer mal?” - questiona Sérgio.

A caça aos cinco homens em fuga prossegue. Foram emitidos mandados de captura e as autoridades continuam todos os dias relatos de avistamentos. Até agora, sempre falso alarme.