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Instituto da Agricultura e Pescas anulou a candidatura para construção do regadio a sul da Gardunha

A decisão foi tomada depois da Câmara de Castelo Branco ter levantado dúvidas sobre a continuidade do abastecimento de água à população caso o regadio fosse construído. A autarquia do Fundão diz que é uma falsa questão e os agricultores estão preocupados.

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A chuva dos últimos dias ajudou a semente a vingar, mas não foi suficiente para fazer a planta crescer. Nesta propriedade a sul da Gardunha na freguesia da Lardosa, concelho de Castelo Branco, que não é servida por regadio, o pasto não rende para dar comida aos animais, também outras culturas até de sequeiro como o feijão frade denunciam a falta de água. 

“As pessoas até aqui têm utilizado as suas próprias charcas e os seus próprios poços que cada vez mais armazenam menos água e que nos causa a nós uma perda de competitividade por exemplo com outras zonas onde o regadio está em funcionamento e que eles atingem níveis de produção talvez do dobro e muitas das vezes o triplo daquilo que nós conseguimos produzir”, explica Leonel Carvalho, agricultor.

A esperança de Leonel era ver concretizado no terreno o projeto do aproveitamento hidroagrícola da Gardunha Sul, mas caiu por terra quando é sabido que a obra não vai avançar. Iria abranger os concelhos de Castelo Branco e Fundão numa área de cerca de 2 mil hectares e previa a captação de água na barragem da Marateca. 

A candidatura foi conjunta entre os dois municípios, um trabalho que durou 12 anos e que obteve aprovação e 15 milhões de euros de financiamento garantidos, mas Castelo Branco recuou. 

“Aquilo que comuniquei ao IFAP é que cada vez que fui questionado sobre o assunto é que nós só aceitaríamos discutir o regadio a sul da Gardunha quando garantíssemos a construção da barragem do Barbaído. Quando nós tivermos uma reserva de água que nos permita garantir que os albicastrenses, os habitantes de Vila Velha de Ródão e de Idanha a Nova não vão ficar penalizados e não vão ficar sem água, nessa altura nós aceitamos discutir”, diz Leopoldo Rodrigues, presidente da câmara municipal de Castelo Branco

O Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas anulou a candidatura de expansão do regadio. A Associação Distrital dos Agricultores não se conforma. 

“Temos muitas preocupações face a este assunto tanto em termos de culturas permanentes como os pomares nomeadamente maçã e cereja. É uma zona de queijo por excelência de grande qualidade em que os agricultores precisam da água para fazer investimentos”, conta Aníbal Cabral, Associação Distrital dos Agricultores de Castelo Branco

A Câmara do Fundão continua a defender o projeto e considera as preocupações do concelho vizinho uma falsa questão

“A barragem não só tem uma capacidade que está quase sempre no seu topo ou muito próximo (...) como ainda por ano, em termos médios, entram cerca de 33 hectómetros cúbicos de água (...) se esta barragem não é sustentável digam-me qual é que é a barragem neste país, nomeadamente a sul do Douro que é sustentável ”, explica Paulo Fernandes, presidente da Câmara Municipal do Fundão

A tomada de posição da autarquia de Castelo Branco que agora aponta como contrapartida a construção de uma nova barragem terá surpreendido o IFP que ainda assim decidiu pela anulação da candidatura e consequente perda do financiamento. O autarca do Fundão não desiste, recorda que o trabalho está feito e admite avançar com parte do projeto.