O Parlamento assinalou esta sexta-feira o centenário de Mário Soares, com uma sessão no mesmo modelo da do 25 de Novembro, com honras militares e encerrada pelo Presidente da República.
Os partidos recordaram o histórico dirigente socialista, antigo primeiro-ministro e Presidente da República, prestando-lhe homenagem e destacando o importante contributo para a Democracia, com alguns a assinalar as profundas divergências ideológicas que os separam.
PS: Mário Soares “esteve sempre do lado certo”
Num claro recado para as bancadas parlamentares, Pedro Nuno Santos afirmou ser “óbvio” que quem dedica sete décadas da sua vida à política expresse, em momentos distintos, “opiniões diferentes”.
Tal não significa que o seu percurso seja marcado por contradições, diz Pedro Nuno, acrescentando que Mário Soares “esteve sempre do lado certo das lutas em que tomou parte”.
“A vida política de Soares vale como um todo e para a avaliar não podemos escolher o período que mais nos convém”, acrescentou.
O secretário-geral do PS elegeu Soares como a sua referência política, “resistente contra a ditadura” e “protagonista” da história, e recordou um momento em que, chegado a uma reunião após a derrota nas últimas Presidenciais, Soares “só falava do futuro”.
“Ensinou-me o real sentido da frase ‘só é vencido quem desiste de lutar’. Soares nunca desistiu.”
PSD evoca Mário Soares como “verdadeiro animal político”
António Rodrigues afirma que recordar Mário Soares e honrá-lo “não é concordar com a sua ideologia”, mas sim “defender impiedosamente a liberdade”.
Lembrando o antigo dirigente socialista como uma das maiores personalidades portuguesas das últimas décadas e um “verdadeiro animal político”, evoca aquele que foi um “inabalável construtor da democracia” e que esteve ao serviço de Portugal “até ao fim dos seus dias”.
O social-democrata considera que Mário Soares estaria, hoje em dia, “na linha da frente no combate aos radicalismos que assolam o país e contra todos os que querem tornar este Parlamento uma mera política de espetáculo.”
Chega: “À sombra de Mário Soares criou-se uma cultura de impunidade política”
André Ventura iniciou a sua intervenção destacando o “papel incontornável”de Soares no 25 de Novembro e nos primeiros passos de Portugal na Europa, mas lamentou os moldes da sessão solene que evoca o seu centenário.
Classificou Mário Soares como “cúmplice” de um “sistema de donos disto tudo” e lamentou aquilo que considera ter sido a “cultura de impunidade política” que se criou e manteve “à sua sombra”.
“Ficou célebre a frase após ser apanhado numa multa de trânsito: ‘Não se preocupem, o Estado paga’”, recordou Ventura.
O presidente do Chega lamentou ainda o processo de descolonização “desastroso e desumano”, acusando Soares de ter abandonado os portugueses que viviam nas colónias.
IL: Soares “esteve do lado certo” nos momentos fundamentais da democracia
Rodrigo Saraiva recorda Mário Soares como “um ser humano imperfeito e um homem comum” que, à semelhança de todos, “tinha virtudes e defeitos” e também “facetas contraditórias”.
Avaliando o balanço da sua atuação política como positivo, o deputado da IL afirma que Soares esteve “do lado certo” nos momentos fundamentais da Democracia”
“Aprendemos com ele que a liberdade não tem donos e que a Democracia não pode ter receio de enfrentar os seus inimigos - tanto os que a combatem por fora como os que a tentam sabotar por dentro”, afirmou.
BE recorda “um dos maiores protagonistas da política portuguesa”
José Soeiro lembrou o combatente anticolonial e antifascista que foi “um dos maiores protagonistas” da política portuguesa, dizendo que “há um Mário Soares para quase todas as bancadas deste Parlamento”.
“O próprio assumia: ‘já toda a gente votou em mim, já toda a gente votou contra mim’”, lembrou o deputado do Bloco de Esquerda.
Recordando as contradições e frontalidade de Soares nas lutas que escolheu, o deputado bloquista recordou ainda a visita do antigo Presidente a Gaza, para intervir “em nome da paz”.
PCP destaca Mário Soares como a “referência maior” do PS
O deputado António Filipe lembrou que o caminho do PCP e de Mário Soares se cruzou em lutas comuns contra o fascismo, mas foi também marcado por “momentos de confronto e divergência” sempre pautados por “relações de respeito mútuo”.
Reconhecendo as “décadas de luta antifascista”, o PCP recusa, no entanto, silenciar o “papel negativo” de Soares “para travar a Revolução”.
“Este reconhecimento não apaga o que nunca silenciámos - o papel negativo que desempenhou para travar a Revolução e viabilizar o processo contra-revolucionário ao procurar apoio para a sua ação nas forças de Direita”.
CDS: “Em Democracia não há inimigos, mas simples adversários”
O deputado João Almeida defendeu que a Democracia se faz no confronto, “por vezes sem tréguas”, com os adversários e que, mesmo em campos opostos, tal nunca impediu a “cordialidade, apreço sincero e mesmo a amizade”.
“É nesse espírito que evocamos o centenário do seu nascimento, assinalando as divergências profundas, e reconhecendo o contributo positivo que deu à nossa vida”, disse.
No centenário do nascimento de Soares, o CDS quis ainda lembrar o que considera ter sido o “maior erro político” do antigo Presidente.
“Em 25 de Abril de 1974, centenas de milhares de portugueses foram vítimas de uma descolonização apressada e desumana. Estes portugueses ficaram para sempre com o injusto rótulo de retornados. A todos é devida uma palavra de reconhecimento e respeito que este Parlamento tem obrigação de assinalar no momento em que evoca todo o legado político de Mário Soares”.
Livre exalta Mário Soares como o político “do futuro”
Paulo Muacho, do Livre, lembrou o advogado, político, estadista e resistente antifascista, um homem “com todos os seus defeitos e contradições”, mas que não trabalhava “para ser adorado”. Ao invés, destaca, “movia-se por ideais e causas”.
“Mário Soares não é um político do passado, mas do futuro - acreditava que o projeto Europeu podia ser muito mais - mesmo nos momentos mais sombrios, acreditou num sonho dos ‘Estados Unidos da Europa’, em que nos revemos.”
Num claro recado à bancada do Chega, Paulo Muacho disse ainda que Soares “nunca aceitaria o enxovalhar das instituições, não encolheria os ombros ao ataque a portugueses de minorias étnicas, nem aceitaria que se usasse os estrangeiros como bodes expiatórios”. Declaração que a bancada do PS também aplaudiu.
PAN destaca papel de Soares na proteção do ambiente
Inês Sousa Real sublinhou o “pensamento livre” e a luta pela construção do Portugal de Abril, destacando o papel de liderança que Soares desempenhou no “despertar” internacional para as questões ambientais.
“Soares colocou a proteção do ambiente e das futuras gerações no centro do debate político. Isto sim, era fazer de Soares ‘Soares é fixe’”, afirmou.