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"As pessoas só vão sentir o que é não ter água quando faltar na torneira"

Quem estuda o clima e o território considera que não há falta de água em Portugal, mas sim falta de gestão. Na próxima semana, vários especialistas estarão em Lisboa para debater a gestão sustentável dos recursos hídricos em Portugal.

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Em 14 anos, as exportações de frutos vermelhos aumentaram 12 vezes. No ano passado, chegaram perto dos 350 milhões de euros. Quem estuda o território diz que não se pode olhar só para a rentabilidade.

A agricultura representa mais de dois terços do consumo de água em Portugal. Para os especialistas, é preciso adequar as culturas à disponibilidade de água e às características da região.

Autoestradas da água: sim ou não?

A chuva das últimas semanas encheu as albufeiras de norte a sul do país. Há 24 anos que não chovia tanto no mês de janeiro. Neste momento, apenas o Barlavento algarvio e o litoral alentejano estão em situação de seca, cerca de 6% do território nacional.

O Alentejo e o Algarve são, precisamente, as regiões do país mais atingidas pela seca. Por isso, há quem considere que a água, mais abundante no centro e no norte, deve chegar ao sul através de transvases, ou seja, a ligação entre barragens.

Mas as autoestradas da água não são consensuais. Geólogos e ambientalistas defendem uma gestão local das barragens, considerando que só em último recurso se deve pensar em transvases de norte a sul.

"Os transvases são a última solução. Primeiro porque são caríssimos, são obras faraónicas. Colocam em causa os usos de água que necessito no centro e norte de Portugal e, por isso, tenho que pensar no tipo de agricultura que necessito para garantir autonomia alimentar", disse, à SIC, Francisco Ferreira, da Associação Zero.

Aumento dos preços pode ser a solução?

Para enfrentar a falta de água, há quem defenda que a solução tem de passar pelo aumento dos preços.

"Em praticamente nenhum lado se paga água pelo preço que custa. Uma vez que a água é distribuída de forma generosa aos cidadãos, faz parte da obrigação gastar de forma controlada", defende o geofísico Miguel Miranda.

Apesar do acesso a água potável ser um direito humano consagrado pelas Nações Unida, há mais de 2 mil milhões de pessoas que não têm acesso, o que representa 25% da população mundial

"A minha avó na Beira Baixa não desperdiçava uma gota de água. Lavava os vegetais e deitava o resto para a horta. As pessoas só vão sentir o que é não ter água quando faltar na torneira", alerta a geógrafa Maria José Roxo.
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