Mariana Mortágua admite que ponderou demitir-se da coordenação do Bloco de Esquerda (BE) na noite eleitoral, depois de o partido ter alcançado o pior resultado de sempre em eleições legislativas, mas explica que não o fez em nome da “estabilidade” do partido, num período que deve ser de “reflexão”.
“É óbvio que temos e queremos retirar todas as ilações. O que considerei nessa noite, e ainda considero, é que eu própria e a direção do Bloco temos um dever para com o Bloco. E esse dever é o de fazer um balanço que possa ser o mais aberto possível e, para isso, é preciso dar alguma estabilidade de direção ao partido”, afirmou, em entrevista na Edição da Noite da SIC Notícias.
Período de reflexão interna com operação Autárquicas em andamento
A coordenadora do BE lembra que o partido tem já “em curso” a operação eleições autárquicas e remete para outras decisões sobre o futuro do partido para a Convenção Nacional do Bloco, agendada para o fim de novembro.
Questionada sobre as críticas dos opositores internos, que a acusam de “falta de humildade” e de “fuga ao reconhecimento de um esgotamento político”, Mariana Mortágua disse esperar que o debate dentro do partido “possa acontecer da forma mais aberta possível”.
“Não fomos capazes de comunicar as nossas prioridades”
Numa análise aos motivos que terão estado na origem do resultado eleitoral que deixou o BE reduzido a uma deputada única na Assembleia da República, a dirigente bloquista admite o impacto do caso dos despedimentos de trabalhadoras recém-mães, mas considera redutor apontar um único motivo para a ‘hecatombe’ de 18 de maio.
“Temos de admitir que não fomos capazes de comunicar as nossas prioridades de campanha”, disse.
“Vai ser preciso reconstruir o Bloco”
Mariana Mortágua recusa qualquer ligação entre a perda de 160 mil votos face às últimas legislativas e o regresso de três históricos - Francisco Louçã, Fernando Rosas e Luís Fazenda - às listas do partido. A coordenadora do BE realça que a derrota da esquerda foi estrutural.
“O momento é muito difícil para a esquerda como um todo. O Bloco é o partido que mais perde, mas a esquerda perde muito. E vai ser preciso reconstruir o Bloco e a esquerda”, confessa.
A propósito da corrida autárquica em Lisboa, Mariana Mortágua não descarta a possibilidade de apoiar a candidatura da socialista Alexandra Leitão, apesar de o BE ter já uma candidata anunciada, Carolina Serrão: “Neste caso não se trata de abdicar de uma candidatura para ter outra, trata-se da possibilidade de fundir as candidaturas”.
Em matéria de diálogos autárquicos à esquerda, o Livre e o PAN são parceiros preferenciais. e, de uma forma mais residual, a CDU. Ainda assim, Mariana Mortágua garante que “o encontro do Bloco à esquerda é total”.