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Bairro do Talude: "Temos 88 crianças sinalizadas e a Câmara de Loures não tinha esse registo"

Kedy Santos, ativista do movimento Vida Justa, rejeita as acusações do presidente da Câmara de Loures e faz críticas à forma como os serviços sociais procederam antes, durante e após as demolições.

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O presidente da Câmara de Loures, Ricardo Leão, diz que os moradores do bairro do Talude foram informados das demolições em março e, nessa altura, foram apresentadas alternativas.

Kedy Santos, deputado municipal da Câmara de Loures e ativista do movimento Vida Justa, diz que as declarações do presidente são falsas.

"Não corresponde à verdade porque nunca foram apresentadas alternativas", começa por dizer o ativista que sublinha que, se de facto tivessem sido apresentadas soluções, o número de barracas no bairro não tinha aumentado de 40, em março, para 66 em julho.

Kedy diz que quem vive no bairro do Talude são pessoas que trabalham todos os dias mas não têm dinheiro para pagar uma renda porque "recebem o salário mínimo".

Esta terça-feira, durante uma cimeira organizada pela SIC Notícias, o autarca de Loures revelou que apresentou uma queixa-crime ao Ministério Público, denunciando uma “teia criminosa” de comercialização de barracas no bairro. O movimento Vida Justa reagiu de imediato, em comunicado, e acusou Ricardo Leão de "mentir" e de tentar "desacreditar" as suas vozes.

E "foi mais longe: insinuou que a Vida Justa é uma rede criminosa, numa tentativa vergonhosa de criminalizar a participação cívica e política de quem luta por justiça", acrescentava a nota.

Kedy Santos também criticou as declarações de Ricardo Leão, esta quarta-feira, na SIC Notícias. "Nós da Vida Justa somos o primeiro recurso para essas pessoas, senão teríamos muitas famílias a passarem fome depois das demolições", afirmou.

"Nem os serviços da Câmara estavam preparados para o número de pessoas que foram colocadas nesta situação habitacional (...) A Vida Justa não está a favor de construções ilegais como disse o presidente, pelo contrário. "

O ativista fez ainda referência ao número de crianças sinalizadas no bairro do Talude.

"Eu sei que existe uma solidariedade entre os autarcas para se autodefenderem, mas essa solidariedade também tem de existir com as pessoas. Nós temos 88 crianças sinalizadas ali, a Câmara de Loures não tinha esse registo, o que é grave. Não tinha noção nem a consciência desse risco."

Kedy Santos denuncia que a Câmara de Loures tem disponível "um conjunto de equipamentos" que podia ter colocado "à disposição para albergar as pessoas para que elas pernoitassem depois da demolição", mas isso "não foi feito".