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Excesso de visitantes e pastoreio na zona protegida? Quercus exige acabar com "morte lenta” do Fanal na Madeira

A associação ambientalista Quercus pede à Secretaria Regional do Turismo, Cultura e Ambiente e ao IFCN para que tomem medidas para proteger o património. "Gente empoleirada em tis centenários para se fotografar" e "os poucos parques de estacionamento", são algumas das críticas apontadas.

O núcleo regional da Madeira da associação ambientalista Quercus manifestou preocupação com o excesso de visitantes no Fanal, uma área da floresta laurissilva conhecida pelo seu bosque centenário de tis, e defendeu a proibição do pastoreio.

Em comunicado, o núcleo regional da Quercus diz estar "profundamente preocupado com a situação em que se encontra a zona de repouso e silêncio do Fanal", realçando que "a situação é de tal modo grave que se torna revoltante assistir a uma morte lenta deste extraordinário património natural".

A associação ambientalista refere que os rebentos dos tis "são logo devorados pelo gado que pasta livremente", apontando que "as vacas não têm consciência deste valioso património, mas quem está à frente do Instituto de Florestas e Conservação da Natureza (IFCN) deveria tê-la e tem o dever de conservá-lo".

A Quercus pede, por isso, que a Secretaria Regional do Turismo, Cultura e Ambiente e o IFCN tomem medidas para proteger o património, manifestando-se disponível para colaborar com estas entidades.

O que propõe a associação?

Impedir o pastoreio "nesta área protegida e frágil", definir a capacidade de carga para a visitação na área, criar percursos pedonais delimitados e sinalizados, reforçar a vigilância e a sensibilização dos visitantes, assim como avaliar alternativas de estacionamento que respeitem a capacidade do local são as propostas da associação.

A Quercus salienta que os dois parques de estacionamento existentes não são suficientes para a afluência, aglomerando-se nas bermas da estrada "veículos de aluguer e todo-o-terreno repletos de turistas", além das dezenas de visitantes que pisam o solo desta reserva, percorrendo-a a seu bel-prazer, sem que haja trilhos definidos".

"É ver gente empoleirada em tis centenários para se fotografar, sem que qualquer vigilância os impeça", lê-se ainda no comunicado.

"Em algumas áreas, o pisoteio é de tal ordem que já não se observam herbáceas e o solo nu, compactado e impermeabilizado, não permite a infiltração da água. Noutros locais, também pelo excessivo pisoteio, as raízes destas extraordinárias árvores encontram-se expostas, vulneráveis ao que se passa à superfície", assinalam os ambientalistas.

O núcleo regional da Quercus acrescenta ainda que o executivo insular (PSD/CDS-PP), liderado pelo social-democrata Miguel Albuquerque, "finalmente reconheceu o problema da visitação exagerada e recomendou aos operadores turísticos percursos alternativos", questionando se é uma "maneira subtil de sacudir a água do capote?".

"Quando vão estes governantes arranjar coragem para controlar o acesso às áreas protegidas, salvaguardando os seus valores naturais? Não conseguem ver que espaços naturais degradados são também um péssimo cartaz turístico e dizem muito da falta de qualidade da governança?" reforça a associação na mesma nota.

O Fanal, no concelho do Porto Moniz (norte da ilha), é uma área da floresta laurissilva, classificada como património natural da humanidade desde 1999 pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).

A zona é conhecida pelo centenário bosque de tis, onde alguns exemplares remontam a um período anterior ao da descoberta da ilha.

- Com Lusa

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