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Jovens sentem-se mais ouvidos, mas maioria diz que opinião é desvalorizada

Sete em cada dez refere que os adultos nunca ou raramente lhes pedem opinião em decisões que afetam a sua comunidade. Mais de metade diz que quando essa opinião lhes é pedida, raramente tem influência.

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As crianças e jovens portugueses sentem-se cada vez mais ouvidos, mas a maioria ainda diz que é raro que os adultos lhes peçam opinião e muitos consideram que mesmo quando participam, a sua perspetiva não tem influência.

A conclusão é do inquérito "Tenho voto na matéria", divulgado esta segunda-feira pela UNICEF Portugal, na data em que se assinala o Dia Internacional da Democracia.

Na terceira edição da consulta pública bienal que pretende "colocar crianças e jovens no centro do debate público", a UNICEF Portugal ouviu 7.417 pessoas, a esmagadora maioria entre os 10 e 20 anos de idade.

Face a 2021, aumentou a proporção de crianças e jovens que sentem que os adultos os querem ouvir frequentemente e que consideram que as suas opiniões são valorizadas, mas ainda representam uma minoria.

Perto de sete em cada dez refere que os adultos nunca ou raramente lhes pedem opinião em decisões que afetam a sua comunidade e 53% consideram que, quando essa opinião lhes é pedida, raramente tem influência.

"As decisões políticas têm impacto direto na vida de cada criança, mas muitas vezes as suas perspetivas ficam de fora do debate público", sublinha a diretora executiva da UNICEF Portugal, Beatriz Imperatori, citada em comunicado.

De acordo com o estudo, apenas um terço das crianças e jovens sente total liberdade para partilhar as suas ideias e opiniões, sendo que cerca de metade não sabe como fazê-lo, não sente confiança por medo de ser gozado ou acha que não tem importância.

Pobreza e custo de vida preocupam mais novos

Por outro lado, o inquérito procurou também perceber quais são as principais preocupações destas faixas etárias, e questões como a saúde mental, internet e redes sociais ou discriminação voltam a surgir entre as mais citadas.

Ao contrário das edições anteriores, no topo das preocupações dos mais novos surge agora a pobreza e o custo de vida.

"As crianças e os jovens em Portugal estão atentos ao contexto socioeconómico e sentem o impacto da pobreza e do custo de vida nas suas famílias e nas suas comunidades", sublinha a diretora executiva.

Quando questionados sobre os problemas que mais os afetam diariamente, dominam as questões ambientais, como a poluição, o futuro do ambiente, a utilização excessiva de plásticos e os desastres climáticos, como incêndios e cheias.

Quanto a melhorias propostas para a comunidade, a maioria defende maior cuidado com o ambiente, mais atividades culturais e desportivas, mais espaços verdes e de lazer e melhor qualidade das escolas e dos serviços públicas.

Outra das dimensões analisada é a perceção de segurança, e se 75% dizem sentir-se seguros na sua comunidade, pouco mais de metade (55%) tem a mesma sensação no ambiente 'online'.

Independentemente do contexto, as raparigas demonstram ser mais cautelosas, enquanto as crianças mais novas revelam sentimentos de insegurança acrescida quando estão 'online'.

A consulta pública questiona também os jovens sobre o uso dos telemóveis e muitos admitem que deve haver regras na escola, sendo essa a resposta mais frequente, depois de mais formação na escola sobre segurança 'online' e aprender onde pedir ajuda se algo correr mal.

Criada em 2021, a iniciativa "Tenho voto na matéria" procura dar mais visibilidade às preocupações, prioridades, ideias e propostas dos mais novos e sensibilizar a sociedade e decisores políticos para a importância do seu envolvimento.

O inquérito foi realizado, em colaboração, pelo Grupo Consultivo de Crianças e Jovens da UNICEF Portugal e o Centro de Estudos e Sondagens de Opinião da Universidade Católica Portuguesa, e as respostas recolhidas entre 07 de maio e 13 de junho.