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João Costa: “Tinha duas colegas com 14 anos que se prostituíam e amigos que viviam em barracas; cresci irritado por ter privilégios”

Cresceu numa família privilegiada, em Setúbal, mas as desigualdades sempre o incomodaram. Teve colegas que não comiam, viviam em barracas e alguns chegaram ao prostituir-se aos 14 anos. Sempre soube que queria ser professor e, enquanto os outros jogavam à bola na rua, ia para a escola com a mãe professora. Fez parte do último Governo de António Costa e sublinha que não foi para a política para ter fama: “Se quisesse popularidade não seria ministro, muito menos da Educação”. João Costa é o novo convidado do Geração 70

José Fernandes

Cresceu em Setúbal, mas foi em Lisboa que nasceu porque o pai era “alfacinha de gema”. Vivia com os pais, os três irmãos e a avó.

Sempre quis ser professor. Em pequeno, a mãe, professora, leva-o para a escola nas férias de Verão e ele ajudava-a a fazer as turmas e a ordenar os nomes por ordem alfabética. “Não gostava de jogar à bola na rua, gostava mais de dicionários”, recorda.

É escuteiro desde os nove anos e o escutismo ainda hoje faz parte da sua vida. Fez teatro e trouxe algumas fotografias para recordar esses tempos.



José Fernandes

Nasceu antes do 25 de Abril, em novembro de 1972, mas cresceu numa altura em que a política estava em “todo o lado”. Depois da Revolução, o país ficou “demasiado frágil” e viu a “miséria” à porta de casa. “Tinha amigos que não tinham casa, viviam em barracas. Tinha duas colegas de turma que aos 14 anos prostituíam-se”, admite.

“Nunca nos faltou nada”. Os pais tinham carro, gozavam férias no Verão e nunca lhes faltou comida à mesa. Cresceu “irritado” com os privilégios que tinha e as desigualdades sempre o incomodaram. “Ficava muito revoltado porque não percebia o porquê de eu ter e os outros não”, confessa.


José Fernandes

É professor catedrático de Linguística, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. Veio da academia para a política sem um “passado político”. Trabalhou no Ministério da Educação oito anos e foi o ministro da Educação do último Governo de António Costa.

Nunca achou que ia ser político. Muito menos ministro. Quando chegou ao cargo, não tinha “ilusões” e sabia que o ministro da Educação não tinha a melhor “fama”. Nesta conversa com Bernardo Ferrão recorda esses tempos, não muito distantes. Fala das reuniões com os sindicatos dos professores - sempre “cordiais e simpáticas" apesar do que passava cá para fora -, e das dificuldades que teve como ministro.

“O dinheiro nunca chega para tudo e para satisfazer todas as exigências. Tentei mexer nos problemas estruturais do ensino e não consegui porque os sindicatos rejeitaram”, conta.



José Fernandes

Deixou o cargo no final do ano de 2023, depois das buscas à residência oficial do então Primeiro-Ministro por suspeitas de corrupção. “Hoje tenho mais tempo para sair, pensar, escrever e dizer o que me apetece. Foram tempos duros, foi uma pasta pesada”, conta.

Investigador sobre o papel da escola pública, reflete sobre o que mudou ao longo dos últimos anos. “É mais difícil ser professor”, o tipo de aluno mudou, a “escola deixou de ser das elites” e as atitudes dos pais são outras. “Ser pai não me dá o direito de negar ao meu filho o acesso à informação. Sobre um assunto que muita polémica causou durante o seu mandato, mantém a mesma posição: "A disciplina de cidadania pode ser comparada a português e matemática, é informação”, sublinha.

O antigo ministro da Educação, João Costa, é o convidado do novo episódio do Geração 70. Ouça aqui a entrevista.


Geração 70 não é um podcast de política ou de economia, nem de artes ou ciência. É uma conversa solta com os protagonistas de hoje que nasceram na década de 70. A geração que está aos comandos do país ou a caminho. Aqui falamos de expectativas e frustrações. De sonhos concretizados e dos que se perderam. Um retrato na primeira pessoa sobre a indelével passagem do tempo, uma viagem dos anos 70 até aos nossos dias conduzida por Bernardo Ferrão

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