Nasceu em junho de 1979, em Lisboa. Cresceu em Alhandra, uma zona piscatória com escadas para o Tejo. Tomou muitas vezes banho com os filhos dos peixeiros. Em criança chamavam-lhe “Albaninho" e passava os dias a brincar no quintal de uma senhora a quem chamava “carinhosamente” de avó.
Para este podcast trouxe a “única” fotografia de infância. Está sentado num triciclo, a brincar, no quintal da “avó emprestada”. “A minha família era pobre, não havia dinheiro para fotografias”, confessa.
Teve uma educação profundamente católica e chegou a ser acólito. Alhandra era uma zona muito politizada, pobre e rural. Os amigos de infância são hoje peixeiros e ciganos. A mãe trabalhava na TAP e o pai tinha um talho. Tem dois irmãos mais velhos e a infância “dura” uniu-os para sempre.
“Nós tomávamos banho uma vez por semana. Usávamos sempre a mesma roupa para ir para a escola. Não tenho complexos em falar disto”, afirma.
A relação com o pai nunca foi a melhor. “O meu pai ensinou-me o que não devo fazer. Os ensinamentos que me deu foram muito úteis. A minha mãe deu-me amor”, admite.
Estudou na escola pública. “Ainda levei reguadas. E com canas”, conta. Passou parte da infância sem ir ao recreio. Não percebia porquê, mas sentia que a professora fazia distinção entre quem tinha dinheiro e quem era pobre.
Entrou no teatro muito cedo, no grupo amador da Sociedade Euterpe Alhandrense. Mas a mãe queria que o filho arranjasse uma profissão “segura”. Começou a trabalhar aos 15 anos “para levar dinheiro para casa”. Trabalhou na restauração, em lojas, em fábricas de papel e até na construção civil.
Mudou-se para Lisboa com 20 anos. A capital era muito grande para o miúdo vindo de uma vila “pobre e rural”. Na primeira viagem de comboio chorou com medo. “Na altura não contei isto a ninguém para não dar parte fraca”, recorda.
Ganhou 800 euros no primeiro trabalho como ator e com a primeira novela recebeu 3 mil euros. “Senti-me uma espécie de milionário.” Hoje é exemplo para a terra e para os amigos de infância.
Albano Jerónimo é o último da segunda temporada do Geração 70. É um dos atores mais reconhecidos a nível nacional, tem um percurso internacional muito elogiado, com uma carreira de sucesso que passa pela televisão, teatro e cinema.
Nesta conversa com Bernardo Ferrão, admite que nunca teve padrinhos para ser “validado” no teatro e mostra-se preocupado com aquilo que considera ser a notória “escassez” de cultura no país. Aproveita também para desmistificar alguns mitos em relação aos atores de televisão:
“Fazer uma novela é um desgaste enorme. Entramos todos os dias pela casa dos portugueses. O horário de trabalho é duro e não há muito tempo para gravar. Mas as pessoas acham que há um facilitismo associado à ideia de ser ator de televisão e vão gostar de saber que não é assim.” Ouça aqui a entrevista.
Geração 70 não é um podcast de política ou de economia, nem de artes ou ciência. É uma conversa solta com os protagonistas de hoje que nasceram na década de 70. A geração que está aos comandos do país ou a caminho. Aqui falamos de expectativas e frustrações. De sonhos concretizados e dos que se perderam. Um retrato na primeira pessoa sobre a indelével passagem do tempo, uma viagem dos anos 70 até aos nossos dias conduzida por Bernardo Ferrão