Já é conhecido desde o dia 7 de julho o resultado da segunda volta das eleições legislativas francesas, convocadas antecipadamente por Emmanuel Macron após o avanço da extrema-direita nas europeias. A coligação de esquerda Nova Frente Popular foi a vencedora, no entanto, não chegou perto dos 289 lugares que são precisos para a maioria absoluta na Assembleia Nacional. Conquistou apenas 193.
O Presidente francês aproveitou esta divisão do Parlamento e a trégua olímpica para atrasar a decisão de nomear um novo Governo e um novo primeiro-ministro — o demissionário Gabriel Attal continua em funções. Só que essa trégua declarada de forma unilateral por Macron já terminou a 11 de agosto, entretanto os Jogos Paralímpicos também começaram e nenhuma escolha foi feita até então.
Não era expectável que esta indefinição durasse tanto tempo, diz Victor Pereira, investigador no Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa. “O mais provável é que Macron pensava que a sua decisão de dissolver a Assembleia ia tomar toda a gente desprevenida e que ia ganhar as eleições, ou pelo menos estar na frente. Isso não aconteceu, então agora está à procura de um plano C ou D — já nem é plano B”.
Depois dos Jogos Olímpicos, houve uma primeira reunião entre Macron e os líderes partidários para nomear a próxima primeira-ministra. O nome de Lucie Castets, da Nova Frente Popular, foi rejeitado e o chefe de Estado argumentou que “um governo baseado apenas no programa e nos partidos propostos pela aliança com mais deputados, a Nova Frente Popular, seria imediatamente censurado por todos os outros grupos representados na Assembleia Nacional”, atira.
Foram feitas mais reuniões de consulta entretanto, porém, “para Macron agora já não há Governo nem primeiro-ministro ideal”, considera Victor Pereira, doutorado pelo Instituto de Estudos Políticos de Paris. “Um primeiro-ministro ideal para Macron seria alguém da confiança dele, do seu partido [Renascimento] ou aliança [Juntos Pela República], o que já não é o caso”, afirma. “Parece que estamos num beco sem saída”, acrescenta o convidado deste episódio.
O segundo mandato consecutivo do Presidente (o máximo permitido na Constituição francesa) termina em maio de 2027 e, apesar de Macron “não ter ambições presidenciais para breve”, não há dúvidas que este episódio o vai marcar politicamente. “A sua forma muito pessoal de deter o poder chegou a este impasse. Dissolveu uma Assembleia sem consultar quase ninguém e teve um resultado muito mau”, analisa Victor Pereira. “A dissolução foi para mostrar que era ele o chefe e falhou redondamente”, atira.
Este episódio foi conduzido pela jornalista Mara Tribuna e contou com a sonoplastia de Gustavo Carvalho. O Mundo a Seus Pés é o podcast semanal da editoria Internacional do Expresso. A condução do debate é rotativa entre os jornalistas Ana França, Hélder Gomes, Mara Tribuna e Pedro Cordeiro. Subscreva e ouça mais episódios.