Geração 70

Pedro Lomba: “Quando entramos na política a pessoa que éramos termina”

A infância no campo militar, os primeiros passos nos jornais e o salto até ao governo de Passos Coelho, com uma passagem pelos momentos difíceis e desilusões enquanto governante.

Pedro Lomba: “Quando entramos na política a pessoa que éramos termina”
NUNO FOX

Nasceu em abril de 1977 e considera-se um “filho do exército”. Percebe-se porquê: o pai era militar, nasceu no Hospital Militar e Santa Margarida foi a sua casa e escola durante muitos anos.

Dessa infância, atípica para a generalidade dos portugueses, recorda as comemorações do dia do exército, sempre “um dia muito especial”, e os primeiros amigos, mais velhos e a cumprir serviço militar.

A “rigidez e a disciplina” do contexto em que cresceu eram, ainda assim, polvilhados pelo cinema, as piscinas, o ginásio e até as idas à igreja, que tornavam tudo “mais agradável”. Talvez por isso, e ainda que reconheça o papel e a importância das Forças Armadas, não se tenha tornado uma pessoa “saudosa do ambiente militar”.

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A descoberta da escrita

Pedro Lomba é o mais novo de cinco irmãos. Nos anos 90, mudou-se com a família para Queluz, para uma casa arrendada onde morou e viveu muitos anos.

Ao contrário do irmão mais velho, não seguiu a carreira militar e rapidamente começou a interessar-se pela escrita e pelos livros. Aos 15 anos, já escrevia para o DN Jovem. No início da vida adulta, em 2002, entrou na blogosfera com a “A Coluna Infame”.


“No fundo, estava a pedi-las”

Aos 36 anos recebeu um telefonema de Miguel Poiares Maduro, então ministro Adjunto e do Desenvolvimento Regional, para ir para o Governo de Pedro Passos Coelho. O facto de escrever regularmente nos jornais e de ser assumidamente uma “voz de oposição” fazia dele um candidato. “No fundo, estava a pedi-las.”

Sem uma relação partidária com o PSD, a entrada na política foi uma “rutura” com o antigo Pedro Lomba, assume.

“Passei a ter um rótulo”

Como secretário de Estado Adjunto do Ministro Adjunto e do Desenvolvimento Regional ficou conhecido pela condução dos briefings diários com jornalistas. Uma experiência reconhecidamente falhada, a concretização de uma ideia “péssima” e que durou muito pouco tempo. “Passei a ter um rótulo. Fiz aquilo para não criar a ideia de que fugi e de que não quis assumir as minhas responsabilidades.”

Afastado da política ativa desde então, reconhece que se desiludiu em relação ao real poder dos membros do governo e que hoje tem a noção de que é um poder “limitado, diluído e disperso”.

Ao longo da conversa, há ainda tempo para o advogado Pedro Lomba refletir sobre um país “preocupantemente frágil” e sem “patriotismo”.

Sobre a política realça a “profunda admiração” por Pedro Passos Coelho, mas um regresso está fora de questão.


“Geração 70“ é uma conversa solta com os protagonistas de hoje que nasceram na década de 70. A geração que está aos comandos do país ou a caminho. Aqui falamos de expectativas e frustrações. De sonhos concretizados e dos que se perderam.

Um retrato na primeira pessoa sobre a indelével passagem do tempo, uma viagem dos anos 70 até aos nossos dias conduzida por Bernardo Ferrão.