Grande Reportagem SIC

"Eu fartei-me de consumir, mas ainda sonho com as drogas"

Primeiro Rui Salvador quer falar connosco sem gravar, perceber bem o que nos leva a querer fazer reportagem na única sala de consumo, no Porto. Pergunta pelas razões para o filmarmos a trabalhar o que, no caso do Rui, é o mesmo que dizer, a respirar.

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Rui Salvador é par na sala de consumo que abriu em agosto de 2022, ao lado do Bairro da Pasteleira Nova.

As salas de consumo de drogas em Portugal estão previstas na lei desde 2001. Há três no país: a do Porto, que é um contentor, duas fixas, em Lisboa, e uma unidade móvel, a funcionar apenas na capital.

São espaços legais adaptados a quem fuma e injecta drogas ilícitas levadas por quem as vai usar e apenas para consumo próprio.

Nas salas trabalham assistentes sociais, enfermeiros e os pares como Rui Salvador, pessoas que já consumiram drogas diariamente e que hoje são adictos à recuperação. Estão todos nos espaços para facilitar os consumos, garantir segurança e higiene no uso dos materiais de consumo, prevenir e dar respostas a possíveis overdoses.

Em duas das salas de consumo é ainda possível tomar duche e em todas há refeições ligeiras, consultas médicas e respostas para questões como busca de emprego, de habitação e encaminhamento para tratamento, caso seja essa a vontade do consumidor.

Rui Salvador já não quer consumir mais drogas. "Enchi-me, fartei-me", garante. Mas, confessa: "ainda sonho com as drogas, luto todos os dias. E cada vez que sonhas enfraqueces".

Na Grande Reportagem "Muitos Anos na Vida - Salas de Consumo assistido", a SIC acompanha o trabalho dos pares, ouve a opinião dos consumidores que usam as salas e faz o diagnóstico ao estado de saúde de uma estrutura e um trabalho cada vez mais aceite, mas ainda pouco conhecido pela sociedade portuguesa num país onde, desde 2001, comprar, ter (determinadas quantias) e consumir drogas não é crime.

No final do dia de trabalho, Rui Salvador ainda teve tempo e vontade de nos dar a mão pelas ruas do Porto onde se consome sobretudo depois da sala fechar. Porque o Rui sabe muito bem que é preciso ir ao encontro, ouvir, informar e, nunca sair, sem dar um abraço.