Repórteres do Mundo

Semana da Moda da Ucrânia e o combate ao desperdício que transforma roupas velhas em novos materiais

Nos Países Baixos, uma empresa de reciclagem de roupa transforma peças usadas em novas fibras, completando o ciclo de vida das roupas. Na Ucrânia, os designers foram convidados a criar roupa funcional para os veteranos gravemente feridos em combate. Estas são duas das reportagens em destaque no Repórteres do Mundo.

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Depois de 3 anos de guerra, os organizadores da Semana da Moda da Ucrânia, quiseram homenagear os soldados que defendem o país e lançaram uma iniciativa inovadora: convidaram os designers a criar roupa funcional para os veteranos gravemente feridos em combate. Os primeiros modelos foram apresentados por militares com próteses, num desfile que juntou moda, inclusão e esperança.

Entre os veteranos que desfilaram na passerelle, esteve Jan, conhecido pelo nome de guerra "Atom". Com apenas 20 anos, este ex-soldado e futuro arquiteto, interrompeu os estudos para se juntar voluntariamente ao Exército ucraniano, foi ferido num ataque na região de Luhansk.

"Claro que estava um pouco nervoso, mas depois de alguns segundos na passerelle comecei a sentir-me mais calmo, e quando todos caminhámos juntos, senti-me muito melhor."

Andriy foi outro dos modelos. Conhecido como "Hero", perdeu um braço e um olho na guerra. Desfilou com um fato que inclui aberturas funcionais nas mangas do casaco, especialmente desenhadas para facilitar o uso de próteses.

"Tudo foi feito à medida das nossas necessidades. E gosto muito. Até agora, todos os fatos clássicos restringiam os meus movimentos."

Os designers Andreas Moskin e Andriy Bilous quiseram criar uma coleção funcional que fosse, não apenas confortável, mas também esteticamente apelativa. Prometem incluir peças adaptadas em todas as futuras coleções.

O designer Makar Tsypan, que também se juntou à iniciativa, mostrou como pequenos detalhes podem fazer uma grande diferença: “Um único fecho pode resolver a situação, para que um veterano não demore 15 minutos a vestir-se e possa fazê-lo num minuto e meio.”

A designer Julya Kros focou-se em criar roupa para amputados e pessoas em cadeiras de rodas. A coleção foi executada em condições extremas, a fábrica fica em Sumy, uma cidade constantemente bombardeada pelos russos.

O sonho dos designers e veteranos é tornar a roupa funcional acessível em grandes cadeias de retalho e lojas de marcas conhecidas. Por isso, apelam a grandes fabricantes que se juntem à criação de roupa adaptada, tornando a moda verdadeiramente inclusiva para todos.

Fábrica transforma roupas velhas em novos materiais

Ellen Mensink é empresária nos Países Baixos. A ideia de combater o desperdício foi a motivação para um novo negócio. Criou uma empresa de reciclagem de roupa e agora transforma peças usadas em novas fibras, completando assim o ciclo de vida das roupas.

As montanhas de roupa usada impressionam. Toneladas e toneladas de peças deitadas ao lixo ou doadas que acabam em lixeiras. A questão ambiental é um dos maiores problemas da indústria da moda atual.
"A indústria do vestuário é incrivelmente poluente. Há uma enorme quantidade de desperdício. Mas também podemos fazer produtos novos a partir do que é deitado ao lixo."
Ellen Mensink é empresária nos Países Baixos. A ideia de combater o desperdício foi a motivação para um novo negócio. Criou uma empresa de reciclagem de roupa e agora transforma peças usadas em novas fibras, completando assim o ciclo de vida das roupas.
O maior obstáculo no processo de reciclagem tem sido a composição diversificada das peças. As roupas são uma mistura complexa de materiais como lã, algodão ou acrílico, além de terem elementos como fechos, botões, cordões e etiquetas.
Para resolver o problema, Mensink desenvolveu um sistema composto por três máquinas específicas: a primeira separa os diferentes materiais, a segunda remove botões, etiquetas e fechos e a terceira transforma as peças já classificadas em novas fibras.

"Como podemos ficar parados quando nossos compatriotas estão a ser assassinados?"

Os soldados armados do exército M23 patrulham as ruas de Goma, na província do Quivu do Norte, na República Democrática do Congo. Os rebeldes controlam toda a cidade depois de terem expulsado o exército congolês e tomado a cidade.

A presença dos soldados faz parte do dia a dia que quem recusou ou não conseguiu sair de Goma.

"Estamos habituados à situação em que nos encontramos em Goma."

O jornalista Chris Michel, da televisão belga VTM, foi autorizado a entrar no quartel-general dos rebeldes. Está a fazer um documentário sobre a guerra no país. Os rebeldes consideram-se um exército de libertação, embora, pelo menos 3.000 pessoas, tenham sido mortas no ataque que levou à tomada de Goma.

Os rebeldes, apoiados pelo Ruanda, declararam unilateralmente um cessar-fogo. Na província do Quivu do Norte a violência nunca parou.

Em Goma a situação continua caótica, com refugiados a tentar regressar ou à procura, de lugares mais seguros.