Os Especialistas

Cancro."É prioritária a otimização dos recursos disponíveis no SNS de forma a garantir equidade no acesso"

Dia Mundial Contra o Cancro. José Dinis, diretor do Programa Nacional para as Doenças Oncológicas (PNDO), explica quais são as linhas estratégicas do país, para o próximo ano, na área do cancro

Num período em que o combate à Covid-19 continua a requisitar toda a atenção do nosso Serviço Nacional de Saúde (SNS) e de quase todas as instituições nacionais, nunca foi tão importante delinear estratégias para conseguir dar resposta a outras patologias, como é o caso do cancro.

Para fazer frente a esta doença que afeta tantos portugueses ( surgem cerca de 59 mil casos de cancro, todos os anos) e tentar colmatar o legado que a pandemia tem deixado, o Plano Nacional para as Doenças Oncológicas traçou as principais linhas estratégicas a trabalhar no próximo ano.

No Dia Mundial Contra o Cancro, que se assinala hoje - 4 de fevereiro - José Dinis, diretor do PNDO, explica o que está a ser feito em Portugal.

Linhas de ação

O Programa Nacional para as Doenças Oncológicas assenta nas seguintes diretrizes, já anunciadas:

- Redução da mortalidade

- Melhorar o conhecimento nacional sobre cancro

- Promover a equidade no acesso aos cuidados

- Promover a investigação em Oncologia

"Para o programa é prioritária a otimização dos recursos disponíveis no SNS de forma a garantir equidade no acesso, em todo o território nacional, em todas as dimensões de cuidado clínico: desde a prevenção primária ao rastreio oncológico; à terapêutica, incluindo a promoção da investigação clínica e dos ensaios clínicos; bem como nos cuidados a prestar aos sobreviventes", explica José Dinis, diretor do PNDO.

O responsável pelo PNDO garante que este está em sintonia com o Plano Europeu de Combate ao Cancro, apresentado ontem, em Bruxelas e cujas diretrizes se sustentam nas seguintes áreas: (1) prevenção primária; (2) rastreio oncológico; (3) tratamento; (4) cuidados de sobrevivência, qualidade de vida para pacientes com cancro e apoio do cuidador; e (5) informação, pesquisa e conhecimento.

"No que a estas áreas diz respeito Portugal já dispõe e proporciona aos portugueses de muitas das medidas previstas para a prevenção primária. Contudo, será necessário evoluir no que ao rastreio oncológico diz respeito para conseguirmos convergir com os objetivos que serão propostos pela Comissão Europeia", refere José Dinis.

O diretor do PNDO coloca ainda a tónica na necessidade que o país tem em continuar a promover a transição tecnológica na saúde, uma vez que esta "permitirá identificar e criar oportunidades de melhoria dos sistemas de saúde na prestação de cuidados".

José Dinis, diretor do Programa Nacional para as Doenças Oncológicas

José Dinis, diretor do Programa Nacional para as Doenças Oncológicas

SIC/ Arquivo

"O plano europeu é uma excelente oportunidade para Portugal"

Tendo em conta que Portugal preside, atualmente, o Conselho da União Europeia, José Dinis acredita que "o plano europeu é uma excelente oportunidade para o país".

O também especialista do IPO do Porto relembra o que se pretende, em traços gerais, com o plano europeu:

- Que existam políticas europeias concertadas relativamente ao tabaco, ao álcool, à alimentação saudável e controlo da obesidade, à Promoção do exercício físico, ao risco ambiental e às vacinas;

- Que ocorram mecanismos de monitorização dos rastreios à escala europeia, com inclusão das populações vulneráveis, alargamento a outros tumores e promoção da investigação em rastreios onde a epidemiologia regional o justifique.

- Promoção e desenvolvimento das melhores práticas organizacionais, implementação de indicadores standard de avaliação de resultados dos Estados Membros (transparência, equidade e coesão entre os cidadãos) e exista apoio a iniciativas que promovam uma melhor regulação do preço da inovação;

- Promoção dos cuidados de proximidade, aumento da qualidade de vida dos Sobreviventes, maior apoio aos cuidadores

- Que Portugal apoie as políticas que promovam a integração de todos os países nas redes de investigação.

Segundo o que foi anunciado em Bruxelas, a Europa irá investir grande parte dos 4 mil milhões de euros - que se destinam ao combate ao cancro - em investigação e inovação. "A aposta na investigação do cancro sempre foi uma preocupação em Portugal e conta com contributos de diversos setores", garante José Dinis. No entanto, o país tem mostrado ser o parente pobre da Europa no que toca, por exemplo, à realização de ensaios clínicos. Não obstante, o especialista mostra-se otimista em relação ao futuro da investigação nacional. "Com o foco da Comissão na promoção de redes de investigação transnacionais, a promoção de Centros Integrados para a Prestação de Cuidados Oncológicos nos quais a componente de investigação será essencial, irão constituir-se oportunidades essenciais para a criação de uma rede de investigação em cancro nacional mais resiliente", sublinha.

Para além da investigação, José Dinis também acredita que o financiamento europeu é uma forma de "aumentar a equidade" e melhorar qualidade de vida e diminuir a mortalidade dos doentes oncológicos.

O especialista é, também, coordenador da Unidade de Investigação Clínica do IPO do Porto

O especialista é, também, coordenador da Unidade de Investigação Clínica do IPO do Porto

Dia Mundial Contra o Cancro

Para assinalar o Dia Mundial Contra o Cancro o diretor do PNDO deixa uma mensagem de esperança a todos os doentes oncológicos e seus familiares:

"O cancro é uma das principais prioridades nacionais para os próximos anos e Portugal está em linha com a Comissão Europeia no sentido de diminuir a mortalidade por cancro e aumentar a qualidade de vida dos doentes. Gostaria que esta fosse a principal mensagem aos nossos doentes e familiares, mesmo num momento em que a atenção do Serviço Nacional de Saúde está focada na gestão da pandemia".

Os Especialistas

Mais