Os Debates

Envolver os cidadãos - quando se fala de cancro - é uma prioridade

No dia em que foi lançado o projeto ECHoS - que tem como objetivo criar sinergias europeias para o desenvolvimento da oncologia e da investigação do cancro - o Vamos Falar?, do Tenho Cancro. E depois?, organizou um debate para saber qual é a aspiração do país para concretizar este caminho e como pode a população ter um papel ativo durante esta jornada

No mais recente Vamos Falar? - transmitido hoje no facebook da SIC Notícias - apurou-se de que forma o projeto ECHoS pode contribuir para o desenvolvimento da oncologia nacional, envolvendo a sociedade civil.

O projeto Establishing of Cancer Mission Hubs: Networks and Synergies (ECHoS) tem como objetivo criar uma rede europeia de National Cancer Mission Hubs (NCMHs) que, por sua vez, irão envolver as suas comunidades nacionais, em diálogos e ações colaborativas em torno de políticas de saúde e de investigação na área do cancro. O projeto ECHoS reúne a experiência e o conhecimento especializado de 58 organizações de 28 países europeus, entre elas organizações governamentais, de saúde, de investigação e de inovação, académicas e organizações publicas ou privadas sem fins lucrativos.

“Este projeto europeu - alinhado com a Missão Cancro - quer melhorar a vida de 3 milhões de pessoas”, sublinha Anabela Isidro, coordenadora do projeto ECHoS


€6 milhões

é o valor do apoio dado pela Missão Cancro ao projeto ECHoS


A iniciativa centrou-se em identificar desafios e oportunidades inerentes a este projeto e em como poderá ser feita a sua implementação no país, de forma a melhorar a Saúde em geral e a oncologia em particular, nomeadamente no que à investigação diz respeito.

Para discutir estas questões, o Tenho Cancro. E depois? convidou Maria Rita Dionísio, diretora médica da Novartis Portugal, Vitor Neves, presidente Europacolon Portugal, Jorge Lima, da ASPIC- Associação Portuguesa de Investigação em Cancro, Isabel Fernandes, do Programa Nacional das Doenças Oncológicas e Anabela Isidro, coordenadora do projeto ECHoS.

Veja AQUI a sessão na íntegra.

Conheça, abaixo, as principais conclusões da sessão:

- “Ainda é difícil falar sobre esta doença e envolver os cidadãos”, afirma Anabela Isidro;

- Trazer os cidadãos para esta causa, ajudará a que os objetivos da Missão Cancro sejam alcançados, sobretudo através da prevenção (mudanças de estilo de vida) e na contribuição para as políticas de Saúde nesta área;

- As desigualdades no acesso a tratamentos, por exemplo, são muito acentuadas entre países e dentro do próprio país. O ECHoS pretende criar polos nacionais - alinhados com a missão cancro - que ajudarão a mitigar esta realidade, assim como outras lacunas que a nossa oncologia poderá apresentar;

- Doentes, profissionais, indústria e governantes devem ser incluídos neste caminho que promove a interdisciplinaridade. “Existe espaço para todos”, sublinha Anabela Isidro;

- O objetivo da estratégia nacional contra o cancro é que esta esteja centrada no cidadão. “Queremos que os pilares dessa estratégia estejam alinhados com os dos outros Estados-membros”, explica Isabel Fernandes;

- Prevenção, deteção precoce, diagnóstico e sobreviventes são os pilares da estratégia europeia;

- Apesar do novo Programa Nacional para as Doenças Oncológicas ter sido apresentado o ano passado e mesmo que a consulta pública tenha terminado em julho de 2022, este ainda não foi aprovado. “Nós não podemos parar por um documento, a estratégia tem que ser posta em marcha”, refere Isabel Fernandes. Mais importante que o documento, é a sua implementação;

- Faz-se boa investigação fundamental em Portugal, mas existe ainda uma dificuldade grande em pô-la em prática, nomeadamente através de ensaios clínicos. “É aí que nós estamos a falhar”, acredita Jorge Lima;

- “Precisamos de financiamento, de redes de trabalho, de apoio/suporte aos médicos-investigadores e do apoio da indústria”, defende o especialista que integra a ASPIC, associação que tenta garantir todo o processo, da investigação base, à clínica;

- As terapêuticas mais inovadoras - às quais hoje temos acesso - só são possíveis porque existe investigação;

- “Esta é uma oportunidade única para o país conseguir resolver ou atenuar os seus problemas de saúde pública”, diz Vítor Neves, acrescentado que também a associação que representa integra projetos a nível europeu que podem ajudar o paradigma do cancro colorretal em Portugal. De recordar que esta doença mata mais de 4 mil e 200 portugueses, por ano, e que o rastreio para esta neoplasia maligna apresenta falhas consideráveis;

- A indústria consegue ter estratégias para fazer acontecer a inovação de uma “forma mais rápida”, garante Maria Rita Dionísio. Além disso, consegue antecipar novas tendências aceleradoras na área da investigação. Uma delas, como explica a especialista, é a necessidade de envolver o cidadão para construir a Ciência;

- O financiamento anual para o cancro é de €400 mil, lembra Isabel Fernandes, o que é “muito pouco” comparativamente ao financiamento de outros Programas Nacionais, elaborados para outras áreas da Saúde.

- O papel das associações de doentes deve ser, também, estar ao lado da tutela, por um lado, e da população, por outro, promovendo a literacia em Saúde, defende Vítor Neves.

- “Há que garantir que nós, portugueses, temos o mesmo acesso a terapêuticas que os outros países da Europa”, conclui Maria Rita Dionísio.

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