A nado ou em frágeis embarcações, os migrantes continuam a fazer-se ao Mediterrâneo e a arriscar a vida, que só têm esperança que se torne digna na Europa. Vêm de Marrocos e da África subsariana, fogem da violência e da pobreza que a pandemia agravou.
Só em dois dias chegaram mais de 9 mil pessoas a Ceuta, um quarto são menores de idade. Para os mais vulneráveis e crianças foi reaberto um campo de acolhimento. Os adultos não têm direito a asilo, cerca de 4.000 migrantes foram devolvidos a Marrocos.
Este intenso fluxo migratório de milhares de migrantes registado nos últimos dias em Ceuta, território espanhol no norte de Marrocos, é apenas um dos aspetos que está a contribuir para a atual tensão diplomática entre Madrid e Rabat. Imagens divulgadas por um canal de televisão de Ceuta sugerem que os guardas fronteiriços de Marrocos fecharam os olhos à vaga migratória e só esta quarta-feira encerraram a passagem de Tarajal.
O ministro marroquino dos Direitos do Homem já disse que Espanha subestimou o preço a pagar por acolher o líder da Frente Polisário, que luta pela independência do Saara Ocidental.
Brahim Ghali, gravemente doente com a doença covid-19, foi internado em abril passado num hospital da cidade espanhola de Logroño, facto que foi apresentado pelo executivo espanhol como um gesto motivado "por razões humanitárias".
Marrocos considerou na altura que a hospitalização de Brahim Ghali, feita alegadamente com recurso a uma identidade falsa e sem o conhecimento das autoridades marroquinas segundo Rabat, era um ato hostil "premeditado" que não devia ser minimizado. Na altura, Marrocos também advertiu que "iria tirar todas as consequências".
No Parlamento, em Madrid, Pedro Sanchéz subiu o tom e disse que a "falta de controlo das autoridade marroquinas não é apenas uma falta de respeito para com Espanha, mas também para com a União Europeia no seu todo".
A Comissão Europeia concorda que a crise migratória é um problema transversal a todo o continente e garante que não vai ser vítima das táticas de ninguém.
"Ceuta é Europa, essa fronteira é uma fronteira europeia e o que se passa não é um problema de Madrid, é um problema de todos" os europeus, disse a vice-presidente da Comissão Europeia, Margaritis Schinas à Rádio Nacional de Espanha (RNE).
A situação na fronteira entre Ceuta e Marrocos é aparentemente mais calma com apenas algumas dezenas de pessoas a tentar chegar a nado ao lado espanhol da fronteira, ao contrário do que aconteceu nos dias anteriores. Ceuta e Melilla, as únicas fronteiras terrestres da União Europeia com África, são regularmente palco de tentativas de entrada de migrantes, mas a maré humana de segunda-feira não tem precedentes.
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