Pandora Papers

Pandora Papers. BES ajudou a subornar antigo ministro da Venezuela

Dinheiro chegou à offshore do ministro com a ajuda de um colaborador do Grupo Espírito Santo.

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A construtora brasileira Odebrecht pagou mais de 90 milhões de dólares, o equivalente a 77 milhões de euros, em subornos a um antigo ministro das Obras Públicas da Venezuela.

Já há dois anos que uma outra investigação do Consórcio Internacional de Jornalistas, a Bribery Division, revelava que a construtora brasileira Odebrecht tinha pagado mais de 90 milhões de dólares à Cresswell Overseas, uma offshore no Panamá. Mas não se sabia ainda como e qual o destino final.

Agora, os Pandora Papers vêm revelar que o dinheiro seria um suborno ao antigo ministro venezuelano das Obras Públicas, Haiman el Troudi, para garantir a posição da construtora em grandes obras nos metros de Caracas e Los Teques e que o Grupo Espírito Santo esteve envolvido no negócio.

É que a Cresswell Overseas foi encomendada e gerida pelo português Paulo Murta, um dos arguidos do processo que investiga a queda do BES e que, em julho deste ano, foi extraditado para os Estados Unidos, para ser julgado por branqueamento de capitais e associação criminosa.

Entre 2012 e 2014, revela a investigação, da qual o jornal Expresso faz parte, Paulo Murta abriu e geriu contas em nome da Cresswell no BES do Dubai e da Madeira. E ainda uma última no Meinl Bank, em Antígua, nas Caraíbas, semanas antes do colapso do BES.

Só em 2014, foram movimentados mais de 20 milhões de dólares, uma parte do dinheiro chegou de uma empresa fantasma da Odebrecht.

Em 2012, Paulo Murta começa também a trabalhar com uma empresa de gestão de ativos, a IGC, criada por Michel Ostertag, um dos colaboradores mais próximos de Ricardo Salgado.

Para o Ministério Público português, a Cresswell tinha como titular o venezuelano, Leopoldo Punceles, mas, no ano passado, um ofício dá conta de que há "prova suficiente" de que a beneficiária é, na verdade, Maria Eugénia, a mulher do ministro El Troudi.

Maria Eugénia que, em 2013, usou também uma empresa que criou em Lisboa, sem funcionários nem atividade, para comprar um apartamento de luxo no Chiado.

Depois do suborno da Odebrecht ao ministro El Troudi, dos mais de 90 milhões de dólares, saíram 50 milhões. Foram investidos em ações da Espírito Santo Overseas Limited, a empresa mãe do grupo gerido por Ricardo Salgado que, na altura, tinha uma dívida oculta ao BES.

O investimento foi feito pela Cresswell, cuja beneficiária era Maria Eugénia, através de uma outra companhia offshore, a Eurasian Investimentos em Macau, que tinha conta bancária no Bank of China. Um dos investidores da Eurasian era Paulo Murta.

Ao jornal Expresso, Paulo Murta, Ricardo Salgado e os venezuelanos Maria Eugénia Zacarias e Haiman el Troudi não quiseram responder.

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