Vários especialistas da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), reunidos em Marrocos, decidiram que a baguete francesa, feita apenas de farinha, água, sal e fermento, merecia o reconhecimento da ONU.
A baguete parisiense impôs-se face aos telhados de zinco da capital e ao festival do vinho de Arbois, dois ícones nacionais também na corrida para esta distinção.
"É um reconhecimento para a comunidade de padeiros artesanais e chefes de confeitaria", disse Dominique Anract, presidente da federação de padarias, em comunicado.
A chefe da agência cultural da ONU, Audrey Azoulay, disse que a decisão honra mais do que apenas pão, mas reconhece o "savoir-faire dos padeiros artesanais" e "um ritual diário".
"É importante que esses conhecimentos artesanais e práticas sociais possam continuar a existir no futuro", acrescentou Azoulay, ex-ministra da Cultura francesa.
Os padeiros franceses parecem orgulhosos, embora, não surpresos: "Claro que deveria estar na lista porque a baguete simboliza o mundo. É universal", disse Asma Farhat, confeiteira da Julien's Bakery, em Paris.
Apesar do declínio no número de padarias tradicionais, os 67 milhões de franceses ainda continuam a consumir baguetes compradas em vários pontos de venda, inclusive em supermercados. O problema, dizem os entendidos, é que muitas vezes podem ser de baixa qualidade.
"É muito fácil conseguir uma baguete estragada em França. É a tradicional baguete da padaria tradicional que está em perigo. É uma questão de qualidade e não de quantidade", disse um morador de Paris.
O Ministério da Cultura de França já tinha alertado para um "declínio contínuo" no número de padarias tradicionais. O país tem perdido cerca de 400 padarias artesanais por ano desde 1970, de 55.000 (uma para cada 790 habitantes) para 35.000 hoje (uma para cada 2.000).
Esta descida deve-se à expansão das padarias industriais e supermercados de fora da cidade nas áreas rurais, enquanto que os locais mais urbanos optam por outro tipo de pães e trocam as suas baguetes de presunto por hambúrgueres.
Curiosidades sobre a baguete
Embora a baguete seja um produto francês por excelência, diz-se que este tipo de pão foi inventado pelo padeiro August Zang, nascido em Viena, em 1839. Zang instalou o forno a vapor em França, tornando possível produzir pão com uma crosta quebradiça e um interior macio.
Mas, apesar de ser um elemento aparentemente imortal na vida francesa, a baguete só ganhou oficialmente esse nome em 1920, quando uma nova lei especificou o seu peso mínimo (80 gramas) e comprimento máximo (40 centímetros).
Um conto popular diz que Napoleão ordenou que o pão fosse feito em palitos finos que pudessem ser mais facilmente carregados pelos soldados. Outro conto liga as baguetes à construção do metro de Paris no final do século XIX e à ideia de que eram mais fáceis de rasgar e dividir, evitando discussões entre os trabalhadores e a necessidade de facas.
"Inicialmente, a baguete era considerada um produto de luxo. A classe trabalhadora comia pães rústicos que se conservavam melhor", disse Loic Bienassis, do Instituto Europeu de História e Culturas da Alimentação, que ajudou a preparar o dossiê da UNESCO.
Existem concursos nacionais, durante os quais as baguetes candidatas são cortadas ao meio para permitir que os juízes avaliem a regularidade da textura e a cor do interior, que deve ser creme.
O "saber fazer artesanal e a cultura do pão baguete" foi inscrito no encontro de Marrocos entre outros itens do patrimônio cultural global, incluindo as danças rituais japonesas Furyu-odori e os mestres de rum leve de Cuba.