Cultura

Chico Buarque recebe Prémio Camões

Músico e escritor brasileiro foi distinguido em 2019, mas, na altura, Jair Bolsonaro recusou-se a assinar o diploma da entrega do prémio. Os Presidentes de Portugal e do Brasil entregaram o Prémio Camões a Chico Buarque.

Prémio Camões entregue a Chico Buarque pelos Presidentes de Portugal e do Brasil
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O Prémio Camões foi esta segunda-feira entregue a Chico Buarque pelos Presidentes de Portugal e do Brasil, no Palácio Nacional de Queluz.

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O músico e escritor brasileiro foi distinguido em 2019, mas, na altura, Jair Bolsonaro recusou-se a assinar o diploma da entrega do prémio.

O valor total do Prémio Camões é de 100 mil euros, divididos entre Brasil e Portugal.

No discurso de agradecimento, emocionado, Chico Buarque lembrou o pai, o historiador Sérgio Buarque de Holanda, de quem disse ter herdado "alguns livros e o amor pela língua portuguesa", e que contribuiu para a sua formação política, de esquerda.

Recuando ainda mais na árvore genealógica, o músico e escritor disse que tem nas veias "sangue do açoitado e do açoitador" e antepassados judeus sefarditas, pelos quais disse que "um dia talvez alcance o direito à cidadania portuguesa".

"Já morei fora do Brasil e não pretendo repetir a experiência", disse, mas reconheceu que "tem uma porta entreaberta" em Portugal.

ANTONIO COTRIM / LUSA

Sobre o Prémio Camões, que lhe foi atribuído em 2019, mas só recebeu quatro ano depois, passada a administração do ex-presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro e uma pandemia, Chico Buarque dedicou o galardão "a tantos autores humilhados e ofendidos, nestes anos de estupidez e obscurantismo".

Sobre a Presidência de Jair Bolsonaro, Chico Buarque falou em "quatro anos de Governo funesto que duraram uma eternidade, porque foi um tempo em que o tempo parecia andar para trás".

E lembrou que "a ameaça fascista persiste no Brasil e um pouco por toda a parte".

ANTONIO COTRIM

O "carioca" filho da literatura e da música

Conhecido por ser um homem de causas e de democracia, Francisco Buarque de Holanda sempre mostrou preocupações políticas e sociais com fortes mensagens, tanto nos livros como na música.

Exemplo disso é o lançamento da música “Tanto Mar”, na década de 70. Uma saudação à Revolução do 25 de Abril em Portugal. Na época, o Brasil vivia uma ditadura militar e a letra foi censurada.

Não foi a única música alvo de opressão. Durante o período mais repressivo da ditadura militar no Brasil, o artista exilou-se em Itália. Foi de lá que escreveu músicas contra o sistema no país.

Apesar da repressão, anos mais tarde a música "Apesar de Você" e “Cálice” tornaram-se hinos da luta contra o regime.

Mas o trabalho do mestre do romance em português não se limita à música e soma uma forte vertente literária. Há especialistas que consideram as letras de Chico Buarque "um poema raro de se fazer".

Foi na década de 70 que se aventurou na indústria livreira com “Fazenda Modelo”. Quando tinha quase 50 anos fez uma pausa na carreira musical, durante mais de um ano, para escrever o primeiro romance, conquistou o mais importante galardão literário brasileiro.

"Leite derramado" é outro exemplo de um livro vencedor, foi premiado em Portugal e no Brasil.

Natural do Rio de Janeiro, nasceu numa família de artistas. É filho da literatura e da música. O pai era um historiador e jornalista, a mãe pintora e pianista.

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Em adolescente era apelidado de “carioca” e é precisamente esse o nome que dá ao disco lançado em 2006.

Dezassete anos depois, já com 78 anos, o dramaturgo e romancista é agora homenageado pela vertente da Literatura. É o 13º brasileiro a receber o Prémio Camões.