O romance “Oil!”, de Upton Sinclair, sobre os conflitos pelo controle dos poços de petróleo no começo do século XX, é um daqueles clássicos da literatura dos EUA tradicionalmente rotulado como “impossível” de adaptar ao cinema. De tal modo que o livro, publicado em 1927 só foi transformado em filme oitenta anos mais tarde — é verdade: foi em 2007 que Paul Thomas Anderson assinou o seu admirável “Haverá Sangue”, com Daniel Day-Lewis no papel central.
Não terá sido por acaso que Anderson mudou o título (“There Will Be Blood”, no original). Na verdade, o seu filme assume-se menos como uma “adaptação” e mais como uma narrativa “inspirada” em Sinclair. Seja como for, o “espírito” do romance não foi atraiçoado: trata-se de encenar uma conjuntura de violenta disputa pela riqueza do petróleo, com todos os fantasmas religiosos e morais que a situação arrasta.
Assim, Daniel Plainview, a personagem interpretada por Daniel Day-Lewis, encontra no pastor Eli Sunday (Paul Dano) um inesperado adversário, no limite questionando a justeza moral dos seus empreendimentos. Nesta perspectiva, “Haverá Sangue” tem tanto de fresco histórico como de conto fantástico sobre as forças misteriosas do Bem e do Mal.
Para lá da excelência do elenco, com inevitável destaque para Daniel Day-Lewis (distinguido com o Óscar de melhor actor), importa referir o director de fotografia Robert Elswit (também “oscarizado”) e Jonny Greenwood, do grupo Radiohead, de novo a assinar uma magnífica banda sonora para Anderson. Recorde-se que este foi o segundo dos três Óscares de Daniel Day-Lewis — o primeiro aconteceu com “O Meu Pé Esquerdo” (1990), o terceiro resultaria da sua performance em “Lincoln” (2013).