Cultura

Sessão de Cinema: "Marx Pode Esperar"

Nome fundamental do moderno cinema italiano, Marco Bellocchio revisita a memória do seu malogrado irmão gémeo num documentário de invulgar delicadeza emocional.

Camillo Bellocchio e Marco Bellocchio: quando o cinema revisita as memórias familiares
Camillo Bellocchio e Marco Bellocchio: quando o cinema revisita as memórias familiares

Dos tempos heróicos das "novas vagas" com "I Pugni in Tasca", um retrato das convulsões da juventude (filmado em 1965), até ao recente "Rapito", sobre os bastidores do Vaticano em meados do século XIX (apresentado no último Festival de Cannes), Marco Bellocchio é um nome fundamental na história do moderno cinema italiano.

Nascido em 1939, em Bobbio, pequena cidade da província de Piacenza, a sua atenção à história política de Itália envolve uma relação constante com as estruturas familiares e os conflitos de gerações. De tal modo que, em 2021, Bellocchio decidiu mesmo fazer um documentário sobre a sua família, mais precisamente sobre o seu irmão gémeo, Camillo, que se suicidou em 1968.

Como o título sugere, trata-se de evocar um contexto de muitos contrastes políticos e, em particular, de formas de comportamento em que o vínculo social e familiar de cada indivíduo está em constante discussão. Nesta perspectiva, pode dizer-se que "Marx Pode Esperar" revisita um turbilhão de utopias políticas desfeito através da lenta decomposição do imaginário juvenil.

Seja como for, o filme de Bellocchio está longe ser um tradicional objecto político, muito menos panfletário. Aquilo que mais conta em "Marx Pode Esperar" é o misto de ternura e tristeza com que Marco — e vários outros elementos da sua família — recordam o malogrado Camillo. Em última instância, este é um filme sobre outra dimensão política: a do próprio território familiar, seus valores e vulnerabilidades.

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