As recomendações dadas aos árbitros para a presente época estão na linha das que a UEFA deu aos seus internacionais.
É que, tal como nós, também o organismo que tutela o futebol europeu está preocupado com duas ou três tendências crescentes que pretende erradicar de vez do espetáculo: o comportamento incorreto de alguns elementos dos bancos técnicos, a falta de respeito de jogadores entre si e, sobretudo, em relação aos árbitros e, claro, as perdas excessivas de tempo.
Nesse sentido deu indicações claras aos juízes de campo para serem ainda mais implacáveis na forma como combatem táticas/condutas antidesportivas.
Se em relação às irresponsabilidades e faltas de respeito praticadas por técnicos e jogadores passou a exigir-lhes “tolerância zero” na resolução do problema, já relativamente ao tempo útil a solução encontrada foi o maior rigor na compensação a dar no final de cada período.
A 1.ª jornada da Liga Portugal foi elucidativa a este respeito:
- os nove jogos do escalão principal tiveram um total de 106 minutos de compensação, o que dá uma média de quase 12 por partida.
É uma mudança substancial, embora já criticada a espaços (provavelmente pelas mesmas vozes que há não muito tempo censuravam a escassez de tempo concedido).
Não se pode agradar a gregos e troianos, mas pode-se ao menos tentar recordar o que pesou historicamente nesta alteração:
- por um lado, a noção de que a vídeo tecnologia levou a que a maioria dos jogos tivesse mais paragens do que era até então habitual; depois a constatação de que aumentaram substancialmente os expedientes antidesportivos por parte de alguns jogadores, no sentido de perderem tempo de forma intencional: refiro-me, por exemplo, a demoras nos recomeços de jogo, lentidão de processos nas assistências médicas e nos processos de substituição, festejos demorados após golos, conflitos e simulações potenciadas para prolongar interrupções, etc, etc.
Assim, os árbitros - que desde o Mundial no Catar receberam instruções para atribuir mais e mais minutos de desconto -, continuam a ter "luz verde" para compensar devidamente o tempo gasto de forma desnecessária.
Para se ter uma ideia, a referência é a de "somarem" aos 90' um minuto por cada golo marcado, outro por assistência a jogador lesionado (no mínimo), 45 segundos por substituição e todo o tempo gasto em consultas com o VAR (neste caso, literalmente).
Não estranhem, pois, que as próximas jornadas sejam pródigas na concessão de mais minutos de desconto.
Não será o ideal sob o ponto de vista desportivo (jogadores mais expostos a lesões e a reações intempestivas, fruto de exaustão física), mas dará alguma justiça à verdade esperada em cada jogo.
O que não faz sentido é, ainda assim, constatarmos que vários jogos da 1.ª jornada tiveram menos de 50% de tempo útil. Isso significa que pelo menos durante toda uma parte... a bola não rolou.
Não é bom.
Nota final mas não menos importante: convém relembrar que para resolver este problema de fundo é necessária a contribuição ativa de todos.
Dos próprios árbitros (na forma como analisam contactos físicos e assinalam/não assinalam infrações), dos jogadores (têm que evitar manobras deliberadas para travar o ritmo de jogo) e até dos treinadores (devem ser os primeiros a abortar táticas que potenciem paragens desnecessárias).
Um problema de todos tem que ser resolvido por todos. Até pelas leis de jogo.