Hoje em dia, a humanidade tem-se esforçado para normalizar as suas liberdades, nomeadamente de género, sexual e religiosa, o que é infinitamente saudável, porque homem e mulher são seres iguais e têm todo o direito de exprimir a sua liberdade, sob todas as suas formas, sem serem alvo de boicote, gozo, humilhação ou condenação.
É certo que, aqui e ali, parece haver excessos na forma como alguns tentam passar as suas mensagens - aquilo a que muitos chamam de "politicamente correto" - mas vejo-o como uma tentativa bem intencionada de levar mentes menos disponíveis a interiorizar os seus ideais como normais. Às vezes só a repetição exaustiva e ininterrupta de certas ideias consegue ser eficaz na forma como chega aos outros.
Naturalmente que não podemos exigir a quem é mais conservador que aceite e concorde com essa visão (aí seríamos nós a impor a nossa verdade aos outros), mas o que podemos e devemos fazer é exigir-lhes respeito. Respeito por quem pensa diferente, por quem age e vive de modo distinto do seu.
Vem a reflexão a propósito da sucessão de momentos infelizes protagonizado pelo ainda Presidente da Real Federação Espanhola de Futebol, Sr. Luis Rubiales.
Devo confessar-vos, com sinceridade: não me passa pela cabeça que o referido senhor seja, enquanto homem e ser humano, alguém profundamente machista ou desrespeitador. Não me passa pela cabeça que não saiba a forma como se deve comportar publicamente, sobretudo em momentos institucionais de grande visibilidade mediática.
Mas do que não tenho dúvidas é que as suas condutas foram bem além do que é aceitável para alguém com o seu cargo.
O Sr. Rubiales não é um adepto qualquer que, no calor do momento, excedeu-se em relação a alguém que estava sentado ali ao lado.
Pelo contrário. O Sr. Rubiales tinha, como tem, obrigação ética, moral, legal e até regulamentar de ter comportamento exemplar, a toda a hora. E não só não teve, como fez o exato oposto.
Um presidente de uma federação desportiva tem que saber que não pode festejar com as duas mãos enfiadas nos genitais, numa tribuna presidencial, com a Rainha do seu país a dois passos de distância. Um presidente de uma federação desportiva tem que saber que não pode pegar numa atleta ao colo, com as unhas bem encaixadas nas suas coxas, nem agarrar outra pelo pescoço e beijá-la, como se estivesse a fazer um casting para um filme erótico. Se não sabe, está a mais no cargo e se está a mais no cargo, só tem uma solução: sair e sair já.
Quem tem cargos desta dimensão e responsabilidade, tem que ter condutas com idêntica dimensão e responsabilidade. Esse é um dos preços a pagar pelo estatuto e opção profissional.
A teimosia em continuar a desempenhar funções nestas circunstâncias revela enorme egoísmo, falta de noção e, pior ainda, tentativa de transformar em vítima quem naquele momento se comportou como abusador.
Porque é abusador quem usa a força da sua superioridade hierárquica para criar constrangimento a alguém que, naquelas circunstâncias, nada poderia fazer ou evitar.
Foi abusivo sim, foi feio e não, Sr. Rubiales, não foi consentido. Até na mentira para o escape, o senhor manchou irremediavelmente tudo o que possa ter construído de bom até agora.
Não tenhamos dúvidas. O mundo de hoje é muito assente em perceção e isso tem "queimado" pessoas honestas e de bem, que nada fizeram para merecer exposição pública nefasta. Muitas mais estarão sujeitas a isso no futuro, infelizmente.
Mas você, Sr. Rubiales, você pôs-se francamente a jeito e escolheu a opção mais pequena quando podia ter optado pela outra.
E agora? Agora não vai sair a bem, vai sair a mal. Será que valeu a pena?