Este é um fenómeno preocupante, não só porque indicia falta de respeito para com os outros agentes desportivos, como também porque pode potenciar conflitos em campo e reações violentas nas bancadas.
É mais grave do que parece.
Sabemos que o futebol é capaz de gerar emoções fortes e que a pressão nas áreas técnicas é altíssima, mas também sabemos que pessoas civilizadas e de bem têm que saber onde traçam a linha que separa a emocionalidade da irracionalidade.
Não é suposto haver tanta histeria, tanta gente de pé a levantar braços, de dedos em riste e com ar acusatório e ameaçador. Não é suposto que, em campo, os adeptos vejam tanta gente aos saltos e que, em casa, todos possamos "ler" nos lábios dos mais irados, tanto insulto, ofensa e injúria.
É feio, é mesmo muito feio.
No futebol, o banco técnico é a "casa" da equipa mais importante, a que lidera, a que dita as regras, a que assume as rédeas. Tudo o que se espera é que dali venham grandes exemplos de postura e saber estar.
Quando isso não acontece, compete aos árbitros a coragem para atuar de imediato, advertindo qualquer pessoa que seja culpada de conduta antidesportiva e expulsando do terreno de jogo quem se exceder de forma clara e notória.
Foi precisamente sobre essa "tolerância zero" que se pronunciou Roberto Rosseti na passada quarta-feira, quando se dirigiu aos jornalistas, num briefing realizado no Mónaco, à margem do sorteio para as competições europeias.
O ex-árbitro italiano, que agora dirige o Comité de Arbitragem da UEFA, reforçou inclusivamente que esta será a principal instrução que passará aos árbitros de elite no próximo seminário de verão, que decorrerá em breve.
É importante reforçar aqui esta mensagem.
Como em tudo na vida, quando a sensibilização não chega, quando apelar à tolerância e à calma não é suficiente, a pedagogia mais eficaz é a punição. Às vezes, só essa consegue passar a mensagem da forma certa, no momento certo.
A necessidade de se adotar comportamentos corretos nos bancos técnicos não anula o direito à indignação e à crítica. Todas as pessoas podem e devem manifestar-se sempre que se sintam lesadas ou prejudicadas. A questão é, como sempre foi, a forma, o modo e o tom como o fazem.
No fundo, tudo se resume a controlo emocional e educação.
Espero que os árbitros portugueses cumpram à risca estas instruções, não permitindo que a imagem do jogo seja afetada por pessoas que sistematicamente se comportam de forma errada.