João Rosado

Comentador SIC Notícias

Desporto

Opinião

Amorim, o dono disto tudo

Opinião de João Rosado. O treinador trocou a hierarquia e as voltas a Varandas ao anunciar que sai pelo próprio pé se o Sporting chegar a junho sem troféus.
Amorim, o dono disto tudo
Quality Sport Images

Aconteça o que acontecer até ao fecho do mercado de jogadores, o Sporting continuará líder do campeonato e a desfrutar, por inerência, da mais invejável posição para conquistar o título.

Face à expressiva vitória sobre o Casa Pia celebrada esta segunda-feira, os leões sabem que pelo menos até domingo vão permanecer no topo e para de lá saírem é preciso que tudo lhes corra muito mal em Famalicão... na véspera daquela que teria de ser uma muito bem sucedida receção do Benfica ao Gil Vicente.

O quadro classificativo que resultou dos jogos disputados ontem à noite pelos gigantes lisboetas permite, assim, a Rúben Amorim dedicar-se, em exclusivo, às preocupações que têm a ver com uma hipotética operação-relâmpago que faça sair de Alvalade um dos imprescindíveis no onze.

Na ótica do treinador, todos aqueles que fazem parte do plantel podem ser merecedores desse estatuto e nos discursos direcionados para o exterior é muito complicado reconhecer-se que há uns mais imprescindíveis do que outros. O problema é que, conforme tem sido evidenciado na época, ninguém como Viktor Gyokeres oferece tantas certezas e, simultaneamente, tão poucas garantias na fábrica de Alcochete.

Viktor Gyokeres
RODRIGO ANTUNES

Dentro de 48 horas encerra-se a janela de transferências em Inglaterra e só quando isso acontecer é que Frederico Varandas e Rúben ficarão a saber com o que podem contar na segunda metade da temporada. Ou o presidente terá os cofres recheados como nunca à conta do cumprimento da cláusula de rescisão de Gyokeres (uns “míseros” 100 milhões de euros) ou o líder da equipa técnica saberá que o melhor jogador da Liga continuará a ser a ameaça demolidora para qualquer adversário, seja em contexto doméstico ou no âmbito da discussão da Liga Europa.

Xavi do que fala ou não Xabi?

No futebol existem muitos fatores imponderáveis e basta lembrar o percurso dos finalistas da recente edição da Taça da Liga para se constatar que nem todas as suspeitas têm correspondência com a realidade. Gyokeres pode ser recrutado por emblemas de outros países, mas seria uma estrondosa surpresa que de hoje para amanhã o internacional sueco deixasse Portugal seduzido por uma competição que não a Premier League inglesa.

É um cenário em que se encaixa o próprio Amorim, cada vez mais um nome incontornável na lista de potenciais candidatos à sucessão de colegas que estão a terminar a aventura em reputadas instituições europeias. Jurgen Klopp, a fazer fé no emotivo testemunho elaborado para as câmaras, quer saber o que é ter uma “vida normal” e anunciou ao Mundo que não vai permanecer em Liverpool... bem ao estilo daquilo que foi protagonizado por Xavi Hernández no FC Barcelona logo depois de ter sofrido cinco golos em casa a expensas do Villarreal de Gonçalo Guedes.

Jürgen Klopp
Jan Kruger

Disposto a usufruir de um ano sabático, Klopp terá descartado a possibilidade de entrar em Camp Nou em 2024/25, reforçando os rumores a propósito do regresso de Xabi Alonso ou de Mikel Arteta a Espanha. O responsável pela contratação a preço zero de Alejandro Grimaldo ao Benfica está na melhor fase da carreira e na qualidade de líder da Bundesliga tem feito do Bayer Leverkusen uma das grandes sensações continentais. Há tanto tempo no Arsenal como Rúben Amorim no Sporting, Arteta não se pode gabar de uma Premiership no currículo e embora ainda estejam frescas as memórias do título há um ano perdido em “modo Botafogo”, a verdade é que a velha parceria com Pep Guardiola faz do basco ainda com sede em Londres um eterno desejado na Catalunha.

Xabi Alonso e Mikel Arteta (Arquivo)

Dominó e domínio total

Tal qual sucede nas operações que envolvem os futebolistas, o efeito dominó no mapa dos treinadores pode abrir uma vaga num Arsenal, num Liverpool, sem esquecer o formidável Leverkusen e a dupla constituída pelos teimosamente dececionantes Manchester United e Chelsea. Rúben Amorim, graças aos feitos já alcançados, estará consciente de usufrui todas as condições para se assumir como um dos grandes “agitadores” do mercado e isso, para Frederico Varandas, acaba por ser tão mau ou pior do que o anunciado “adeus” de Viktor Gyokeres.

Frederico Varandas
Gualter Fatia

A história mostra que sem o goleador escandinavo o Sporting foi campeão em 2020/21 sob a orientação de um profissional que custou 10 milhões de euros e que pelo dobro desse valor pode a todo o instante abraçar uma experiência fora de portas. A confirmar-se que a cláusula de rescisão do técnico leonino para os interessados estrangeiros é de 20 milhões de euros (contra os 30 milhões estipulados para o panorama nacional), Varandas sabe que está refém do grau de compromisso que Amorim esteja na disposição de evidenciar.

Aliás, só isso explica a naturalidade e o desassombro com que o técnico se referiu ao fim do seu próprio ciclo no caso de os leões chegarem a junho sem qualquer troféu. Apesar de ter renovado há dois anos e ter assinado nessa altura um vínculo até 2026, Rúben permitiu-se dizer publicamente esta semana que nas circunstâncias atrás referidas sairá pelo próprio pé.

Pode até ter sido tudo protocolado a nível interno e não é preciso ser um contabilista certificado para se saber que a fatura no futebol português vai sempre para o domicílio fiscal do treinador.

O facto de a declaração não ter pertencido ao presidente é que causa estranheza.

Ou talvez não, atendendo ao exposto. Amorim, mestre da estratégia e da comunicação, é o “dono” disto tudo, uma espécie de juiz em causa própria.

Resta saber se em breve vai gastar os milhões que (ainda) não lhe pertencem num ponta-de-lança chamado... Gyokeres.

RODRIGO ANTUNES