Bruxelas está mais pessimista do que o Governo e corta nas previsões de crescimento para o próximo ano.
Os técnicos europeus não acreditam no crescimento de 1,3% estimado por Fernando Medina para 2023 e apontam para apenas 0,7%, em linha com as previsões do Fundo Monetário Internacional. Ainda assim, o país deverá crescer acima da média da zona euro.
No geral, a Comissão Europeia reviu em baixa as expectativas de crescimento da União Europeia para 2023, devido aos efeitos da guerra na Ucrânia e à forte subida dos preços, sobretudo da energia.
A inflação deverá continuar a ser elevada, apesar de as previsões indicarem que deve começar a descer. Neste aspeto, a Comissão também é mais pessimista que o Governo, quer para este ano, quer para o próximo.
A taxa de inflação em Portugal este ano foi assim revista em alta pela Comissão Europeia para 8%. Apesar de mais pessimista do que a estimativa de 7,4% do Governo, está abaixo da média da zona euro, de 8,5%.
Quanto ao défice, a Comissão antecipou um défice de 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB) em Portugal este ano, mantendo a anterior estimativa e novamente em linha com o previsto pelo Governo, com ligeira revisão em alta para 2023.
O executivo comunitário estima então um défice de 1,9% do PIB este ano e de 1,1% do PIB no próximo em Portugal, mantendo a percentagem para 2022 face ao anteriormente previsto e aumentando em 0,1 pontos percentuais a estimativa para 2023.
Para 2024, Bruxelas projeta um défice de 0,8% do PIB em Portugal, de 3,3% do PIB na zona euro e de 3,2% do PIB na UE.
"As finanças públicas [em Portugal] deverão melhorar gradualmente ao longo do horizonte de previsão, com o défice do setor público administrativo a ser de 1,9% do PIB em 2022, 1,1% em 2023 e 0,8% em 2024", observa Bruxelas.
Também o crescimento do PIB português para este ano foi revisto em ligeira alta para 6,6%, mas Bruxelas antecipa que em 2023 cresça somente 0,7%, muito abaixo das anteriores projeções e abaixo das do Governo.
Relativamente às anteriores previsões de verão, publicadas em meados de julho, Bruxelas acrescenta 0,1 pontos percentuais às perspetivas de crescimento da economia portuguesa em 2022, de 6,5 para 6,6% (o segundo maior do espaço da moeda única, apenas atrás da Irlanda, de 7,9%), mas revê em forte baixa as expectativas para o próximo ano, já que há quatro meses apontava para uma expansão de 1,9% e agora só espera 0,7%.
As previsões de Bruxelas para 2022 ficam ligeiramente acima daquela inscrita pelo Governo na proposta de Orçamento do Estado para 2023 (OE 2023), de um crescimento de 6,5% - embora entretanto o ministro das Finanças, Fernando Medina, já tenha admitido que a economia portuguesa possa expandir-se este ano até 6,7% -, mas relativamente a 2023 são mais pessimistas do que as de Lisboa, que espera um crescimento do PIB português de 1,3%.
No que toca à dívida pública, a instituição diz prever uma dívida pública de 115,9% do PIB em Portugal em 2022, de 109,1% do PIB em 2023 e de 105,3% do PIB em 2024.
A estimativa é que as dívidas públicas da zona euro sejam de 93,6% do PIB este ano, de 92,3% do PIB no próximo e de 91,4% no seguinte, enquanto no conjunto da UE estes valores são de, respetivamente, 86%, 84,9% e 84,1%.
Bruxelas prevê 5,9% de taxa de desemprego em Portugal este ano
A Comissão Europeia prevê que a taxa de desemprego em Portugal atinja, este ano, os 5,9%, uma estimativa menos otimista do que a de 5,6% do Governo, segundo as previsões macroeconómicas de outono, divulgadas esta sexta-feira.
De acordo com as previsões económicas do outono, Portugal é um dos cinco Estados-membros que viram a taxa de desemprego aumentar no segundo trimestre de 2022, face ao anterior, estimando para este ano uma taxa de 5,9%, que se mantém estável em 2023 e deverá baixar para 5,7% em 2024.
A estimativa da Comissão Europeu para a taxa de desemprego é menos otimista do que a apresentada pelo executivo na proposta de Orçamento do Estado para 2023, que estima uma taxa de 5,6%.
Face às previsões macroeconómicas de verão, divulgadas em julho, o desemprego foi revisto em alta de 0,2 pontos percentuais.
“Economia da UE entrou agora numa fase muito mais difícil”
A Comissão Europeia reviu em forte baixa as perspetivas de crescimento da economia europeia em 2023, antecipando uma contração significativa, com uma subida do PIB de apenas 0,3% tanto na zona euro como no conjunto da União Europeia.
Comparativamente às anteriores previsões de verão, publicadas em meados de julho, Bruxelas revê em alta as perspetivas de crescimento para este ano, depois de um desempenho acima do esperado no primeiro semestre, projetando agora que o Produto Interno Bruto (PIB) progrida 3,2% na zona euro e 3,3% na UE - quando há quatro meses previa crescimentos de 2,6% e 2,7% respetivamente.
Bruxelas considera que os “choques desencadeados pela agressão da Rússia contra a Ucrânia” estão a afetar a procura global e a reforçar as pressões inflacionistas.
A União Europeia tem uma das economias mais expostas às consequências da invasão russa pela “proximidade geográfica com a guerra e pela forte dependência das importações de gás”.
Segundo o comunicado divulgado pela Comissão Europeia, a crise energética está a “corroer o poder de compra das famílias e a pesar na produção”. Esta situação vai influenciar as perspetivas para 2023, que são “significativamente mais fracas para o crescimento e mais elevadas para a inflação, em comparação com as previsões de verão”.
O clima de grande incerteza, a crise dos preços da energia e a perda de poder de compra deverão 'atirar' a UE, a zona euro e a maioria dos Estados-membros para a recessão no último trimestre deste ano, cenário que poderá prosseguir no primeiro trimestre de 2023.
Bruxelas antecipa agora uma forte contração da economia europeia no próximo ano, antecipando um crescimento do PIB de apenas 0,3%, quando no verão confiava que este subiria 1,4% na zona euro e 1,5% na UE, apesar da guerra na Ucrânia.
Inflação na zona euro com novo máximo anual de 8,5% este ano
A Comissão Europeia fez uma nova revisão em alta da inflação, para novos máximos anuais de 8,5% na zona euro e 9,3% na União Europeia (UE) este ano.
Nas previsões macroeconómicas do outono, o executivo comunitário estima novos máximos históricos da inflação para 2022, quase um ponto percentual acima dos 7,6% e dos 8,3% na UE apontados em julho.
Para 2023, Bruxelas prevê um abrandamento do indicador, mas ainda com valores elevados de 6,1% na zona euro e 7,0% na UE, esperando-se um novo recuo em 2024 para, respetivamente, 2,6% e 3,0%.
De acordo com as previsões macroeconómicas divulgadas, o pico da inflação na zona euro e na UE foi deslocado para o final deste ano.
Crescimento deverá regressar à Europa na primavera
Segundo Bruxelas, uma vez que "a inflação continua a cortar nos rendimentos disponíveis dos agregados familiares, a contração da atividade económica deverá continuar no primeiro trimestre de 2023", esperando-se que o crescimento regresse à Europa na primavera, "assim que a inflação relaxe gradualmente o seu domínio sobre a economia", mas de forma moderada, levando a que o PIB evolua apenas 0,3% no próximo ano, tanto no espaço da moeda única como no conjunto da União.
Em 2024, Bruxelas espera então que o crescimento da economia europeia volte a acelerar, para os 1,5% na zona euro e 1,6% na UE. Contudo, a Comissão Europeia, que tem procedido a sucessivas revisões em baixa das suas previsões macroeconómicas desde que, em fevereiro passado, a Rússia lançou a agressão militar na Ucrânia, assume que "as perspetivas económicas permanecem rodeadas de um grau excecional de incerteza", apontando que a guerra continua e "o potencial para novas perturbações económicas está longe de estar esgotado".
"A maior ameaça vem de desenvolvimentos adversos no mercado do gás e do risco de escassez, especialmente no inverno de 2023-24. Além do abastecimento de gás, a UE permanece direta e indiretamente exposta a novos choques para outros mercados de mercadorias, reverberando das tensões geopolíticas. Uma inflação mais prolongada e potenciais ajustamentos desordenados nos mercados financeiros globais ao novo ambiente de taxas de juro elevadas continuam também a ser fatores de risco importantes", assume Bruxelas.