Economia

Análise

Habitação: apoio ao crédito anunciado pelo Governo "não é a solução perfeita"

Nuno Rico, economista da DECO Proteste, analisa as medidas do Governo de apoio às famílias e deixa alguns conselhos quanto à adoção, ou não, das mesmas.

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Nuno Rico, economista da Deco Proteste, analisa na SIC Notícias as novas medidas de apoio às famílias, no que toca à habitação, aprovadas pelo Conselho de Ministros, esta quinta-feira.

O economista considera que o apoio aos créditos anunciado pelo Governo é o apoio “possível tendo em conta o contexto” económico do país e as restrições do Banco Central Europeu.

Informa ainda que as medidas anunciadas vão ao encontro das propostas que a DECO tinha enviado ao Executivo, em abril passado. Entre essas propostas, constata, estava a aquela que coloca “um travão à prestação”.

“Esta medida que o Governo anunciou permite que as famílias tenham um travão, permite que consigam atenuar a subida da Euribor e estes valores altos que se vão manter, seguramente, por alguns meses”, afirma.

Nuno Rico destaca ainda o facto de as pessoas deixarem de estar dependentes “da boa vontade do banco” e de poderem, assim, renegociar as suas dívidas facilmente. Para além disso, nota que este mecanismo não acarreta custos para o Orçamento de Estado, algo que considera positivo.

“Esta não é a solução perfeita”

Todavia, garante que “esta não é a solução perfeita” e que essa passaria por oferecer crédito de taxa fixa, visto que 90% dos créditos à habitação em Portugal estão sujeitos à variação da Euribor, o que diz ser “um caso único na Europa”.

“Na carta aberta que nós [a DECO] enviámos em abril, tínhamos lá uma medida estrutural que era enquadrar a oferta de taxa fixa para a tornar muito mais atrativa e ter algumas características semelhantes à de taxa variável, que é a criação do indexante de referência”, informa.

Nuno Rico reconhece que a banca está a beneficiar com o aumento das taxas de juro, mas refere que a solução encontrada pelo Governo promove o equilíbrio “entre ambos os lados” (O Governo e os bancos):

“Por um lado, acaba por não haver uma intervenção do Orçamento de Estado (…) e os bancos acabam por beneficiar porque acabam por ter um aumento de custos, sem alterações unilaterais dos contratos”

Os conselhos do economista

Por fim, afirma que é difícil prever qual será a evolução da Euribor e que existe o risco de haver uma subida daqui a dois anos. Desse modo, deixa o conselho:

“As famílias que estão em dificuldades neste momento poderão e deverão aproveitar este instrumento para ter aqui uma folga financeira, obviamente tendo consciência que haverá um custo no futuro. Mas poderá ser um custo suportável tendo em conta a emergência do momento. Contudo, aquelas famílias que têm uma taxa de esforço baixa, se calhar aderirem a este mecanismo apenas lhes vai encarecer o crédito”.