Economia

Orçamento do Estado: a entrevista a Fernando Medina

Fernando Medina afasta, para já, uma candidatura a primeiro-ministro nas legislativas de 2026. Na entrevista a José Gomes Ferreira, falou sobre o desagravamento do IRS, da degradação do SNS e Educação, dos problemas das empresas e da privatização da TAP.

O ministro das Finanças, Fernando Medina, apresenta o Orçamento do Estado para 2024.
O ministro das Finanças, Fernando Medina, apresenta o Orçamento do Estado para 2024.
JOSÉ SENA GOULÃO
Loading...

Numa entrevista conduzida por José Gomes Ferreira, Fernando Medina insistiu na aposta na procura interna face à turbulência do contexto externo, reconheceu que podia ter ido mais longo do desagravamento do IRS e destacou o aumento do rigor nas contas públicas. Também afastou, para já, a candidatura a primeiro-ministro, rejeitando também que o aumento do poder de comprar que o Orçamento do Estado irá trazer às famílias esteja relacionado com as eleições dos próximos anos.

“A estratégia que temos é muito realista. Temos que fazer face às circunstâncias, ao abrandamento da economia, às taxas de juro elevadas, à incerteza geopolítica, à crise do Médio Oriente, aos problemas entre a China e os Estados Unidos”, disse o ministro das Finanças, acrescentando que “o rigor das contas públicas não é algo que o país se possa desligar”.

Questionado sobre a aposta em aumentar o rendimento das famílias, Fernando Medina admitiu que a estratégia do Governo, proposta por si próprio, é a de tentar contrariar o ciclo - com riscos e adversidades na frente externa - sustentando a procura interna.

Desagravamento do IRS: Governo podia ter ido mais longe, mas apostou no “equilíbrio”

Sobre o desagravamento do IRS nos cinco primeiros escalões, o ministro das Finanças afirmou que a aposta foi direcionada para a classe média, assumindo que, na sua perspetiva, os escalões acima já podem ser considerados “classe média alta”, tendo em conta que o rendimento médio do país se situa nos 1.360 euros.

“Temos que definir prioridades dentro dos recursos”, indicou, admitindo que o Governo podia ter ido mais longe, mas em prejuízo de outras coisas.

“Achamos que este era o equilíbrio”, apontou, sublinhando que o desagravamento no IRS vai abranger 85 das famílias portuguesas.

Degradação do SNS e problemas na Educação

Fernando Medina fez questão de sublinhar que este é o segundo Orçamento do Estado em que apresenta reforço de verbas significativo para o Serviço Nacional de Saúde (SNS). Em resposta à pergunta “Sente-se responsável pela degradação do SNS?”, o responsável pela pasta das Finanças revelou que as verbas atribuídas para 2023 e 2024 foram as consideradas necessárias pelo Ministério da Saúde.

Relativamente à carreira dos professores, Medina refugiou-se na justificação que tem vindo a ser utilizado pelo líder do Executivo, António Costa, argumentando que não seria justo devolver os anos de carreira apenas a uma determinada classe, deixando para trás toda a administração pública.

No entanto, adiantou que o Governo está a tentar encontrar uma solução do ponto de vista financeiro para minorar o problema dos professores que estão deslocados, tendo em conta os preços da habitação e a dificuldade de colocações nas zonas mais pressionadas pela crise.

Empresas: constituído grupo de trabalho para resolver problemas

O ministro das Finanças anunciou que foi criado um grupo de trabalho com os parceiros sociais no sentido de identificar quais as áreas mais problemáticas e as medidas que devem ser prioritárias. O Governo que “atacar” os três, quatro ou cinco problemas mencionados pelos empresários.

Fernando Medina admitiu que o excesso de burocracia e um “sistema pouco claro” relativamente ao que são as obrigações fiscais e contributivas da empresas são prejudiciais.

TAP: “Falaremos do valor da venda quando a concluirmos”

Fernando Medina não quis revelar se a TAP será ou não vendida acima por um valor acima das avaliações, que apontam para os 1.200 milhões de euros. Disse apenas que o lote a ser vendido vai integrar partes da TAP SGPS, a Portugália, a empresa de serviços médicos e a de catering, deixando a Groundforce em suspenso (poderá ou não vir a integrar o lote).

Sobre a opinião de Pedro Nuno Santos que defende a posição maioritário do Governo na TAP, Medina disse que não é novidade, mas que é apenas a posição do próprio.

“O Governo decidiu vender, no mínimo 51%, podendo ir até perto de 95%”, esclareceu.

Para Medina, é importante preservar os seguintes pontos: “queremos uma privatização que resulte numa TAP maior, mais voos, mais destinos, mais operação; o crescimento do hub no país; e a capacidade de podermos trazer investimentos para Portugal".