Militares norte-americanos estacionados no aeroporto da capital afegã, Cabul, realizaram esta sexta-feira missões na zona envolvente para recolher civis, trazidos de volta à base para serem retirados do país, confirmou o Pentágono.
Um helicóptero norte-americano CH-47 Chinook recolheu afegãos, a maioria mulheres e crianças, e transportou-os para o Aeroporto Internacional Hamid Karzai, segundo adiantaram fontes de comando militar à agência AP.
"Em pouco tempo e cobrindo uma curta distância, alguns soldados conseguiram sair, recolher (os civis) e trazê-los de volta" ao aeroporto, disse o porta-voz da Secretaria da Defesa norte-americana, John Kirby.
A 3.ª Brigada de Combate do Exército dos EUA, da 82.ª Divisão Aerotransportada, retirou os afegãos a partir de Camp Sullivan, próximo do aeroporto de Cabul.
As mesmas fontes indicaram que estas ações estão a ocorrer há dias, numa altura em que os afegãos, sobretudo os que colaboraram com forças ou missões diplomáticas de países ocidentais, tentam fugir do país devido à chegada dos talibãs ao poder, temendo represálias.
Equipas dos serviços de inteligência norte-americanos dentro de Cabul estão a ajudar a chegar ao aeroporto cidadãos nacionais e afegãos, bem como as famílias destes, ou a garantir que são resgatadas através de outros meios.
Para aqueles que vivem em cidades ou regiões fora de Cabul, estas equipas e forças de operações especiais estão a reunir os cidadãos em locais predeterminados.
Sem revelar os locais, por motivos de segurança, as fontes falaram ainda sob condição de anonimato por não estarem autorizadas a discutirem operações em andamento.
Após uma ofensiva relâmpago, os talibãs tomaram Cabul no domingo passado, o que assinalou o seu regresso ao poder no Afeganistão, 20 anos depois de terem sido expulsos pelas forças militares estrangeiras (EUA e NATO).
Foi o culminar de uma ofensiva que ganhou intensidade a partir de maio, quando começou a retirada das forças militares norte-americanas e dos seus aliados da NATO, incluindo Portugal.
As forças internacionais estavam no país desde 2001, no âmbito da ofensiva liderada pelos Estados Unidos contra o regime extremista, que acolhia no seu território o líder da Al-Qaida, Osama bin Laden, principal responsável pelos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001.
Depois de terem governado o país de 1996 a 2001, impondo uma interpretação radical da Sharia (lei islâmica), teme-se agora que os radicais voltem a impor um regime de terror, nomeadamente ao nível dos diretos fundamentais das mulheres e das raparigas.
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