Os talibã anunciaram a composição do Governo interino. O chefe-executivo é Muhammad Hassad Akhund, enquanto Abdul Ghani Barad – cofundador do movimento – assume as funções de número dois. O elemento escolhido para ministro do Interior é procurado pelo FBI.
O anúncio estava prometido há dias e, para os afegãos que resistem aos talibã, esta é a machadada final. Muitos dos rostos que compõem o Governo são velhos conhecidos e consagram o regresso do regime repressivo dos estudantes de Teologia.
Abdul Ghani Baradar era o nome mais falado para liderar o Executivo, mas vai ser o número dois. Muhammad Hassan Akhund será o primeiro-ministro do Afeganistão.
O ministro do Interior é Haqqani, o homem que deu o nome ao grupo de guerrilheiros que combatia as tropas ocidentais no país. Faz parte da lista de procurados pelo FBI, que oferece uma recompensa de mais de quatro milhões de euros pelo seu paradeiro.
O porta-voz dos talibã anunciou ainda a nomeação do Yaqub (filho de Omar, fundador do movimento e chefe de Estado de facto do Afeganistão durante o anterior regime) para ministro da Defesa.
Amir Khan Muttaqi, negociador dos talibãs em Doha, chefiará o Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Horas antes do anúncio, os talibã cumpriam a advertência de que não iriam tolerar atos de insurgência ou contestação. Há relatos de que jornalistas que cobriam os protestos, que aconteceram nas ruas de Cabul, acabaram detidos ou com o material de trabalho confiscado.
O anúncio do Governo é um momento-chave na transição para o Emirado Islâmico que os talibã autoproclamaram a 15 de agosto. No entanto, deverá permanecer sem o reconhecimento da comunidade internacional.
O reconhecimento poderá chegar do Paquistão, China, Irão, Turquia e Qatar – onde os talibã têm representação diplomática e que tem assumido o papel de mediador entre os radicais e o ocidente.
O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, visitou Doha e confirmou haver diálogo com os talibã, mas para assegurar a saída de americanos e afegãos documentados.
Blinken segue para a Alemanha, onde vai presidir a uma reunião por videoconferência com ministros de 20 países, sobre o Afeganistão.
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