Trinta e cinco anos após a catástrofe de Chernobyl e 10 anos depois de Fukuhima, a energia nuclear, que fornece cerca de 11% da eletricidade mundial, divide mais do que nunca. Entre o abandono alemão e o boom chinês, os custos crescentes e a transição energética, uma visão geral de um setor com um futuro difícil de prever.
A indústria nuclear já estava em crise antes do acidente de Fukushima, mas desde então tem piorado. Se por um lado se assiste a um aumento do investimento na China, por outro há uma série de países que já estão a prever meter um fim a este recurso.
De acordo com os últimos dados da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), existem 444 reatores em atividade em 30 países, para uma capacidade instalada de 394 098 MWe (megawatt electrical).
No final de 2010, existiam 429 reatores nucleares. Em 10 anos, a potência instalada aumentou modestamente - na altura era de 365,3 GW - uma vez que os novos reatores são mais potentes e os equipamentos são cada vez mais eficientes.
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Novos projetos concentrados na China
No decénio 2011-2020, a China concentrava 25 dos 57 reatores em construção oficialmente registados no mundo.
No mesmo período, quatro novos atores entraram no palco nuclear: Bangladesh, Bielorrússia, Emirados Árabes Unidos e Turquia.
Outros países, nomeadamente aqueles que ainda dependem do altamente poluidor carvão, também querem investir nesta energia, como a Polónia, ou desenvolver um setor nuclear já existente, é o caso da República Checa.
No sentido contrário, a Alemanha estabeleceu 2022 como meta para eliminar a energia nuclear após o acidente de Fukushima. A Suíça decidiu fazer o mesmo, embora mantendo algumas centrais por enquanto. A Bélgica planeia um fim em 2025.
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Custos e benefícios da energia nuclear
Além dos problemas inerentes que a energia nuclear levanta (segurança, resíduos, etc.), está cada vez mais em concorrência com as energias renováveis, que se têm tornado mais baratas. Além disso, o setor foi forçado a adotar novas medidas de segurança após Fukushima, tornando-o por isso mais caro.
No entanto, a energia nuclear ainda tem defensores, que destacam que é uma fonte de energia que emite muito pouco CO2 e é controlável de acordo com as necessidades, ao contrário do vento ou do sol.
A AIEA defende o papel da energia nuclear na luta contra o aquecimento global ao lado das energias renováveis.
“Uma série de tecnologiass, que incluem a eletricidade nuclear, será necessária para a transição para a energia limpa em todo o mundo”, segundo a agência das Nações Unidas.
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Pistas para o futuro do nuclear
É difícil dizer como serão as próximas décadas. A AIEA prevê que, em 2050, a capacidade nuclear mundial poderá aumentar em 82% ou diminuir em 7%.
Depois de corrida aos reatores cada vez mais potentes, a indústria nuclear está agora muito interessada em pequenos reatores modulares ou SMR ("small modular reactors") - cuja potência não ultrapassa 300 megawatts (MW), contra os mais de 1.000 MW dos reatores atuais.
São produzidos em série em fábrica e depois transportados para o local onde vao funcionar. Este conceito já é aplicado na Rússia e está a interessar aos Estados Unidos (que já possuem o maior número de reatores do mundo e de todos os tipos), à França (que retira 70% da sua eletricidade do átomo, um recorde mundial ) e ao Reino Unido.
Vários países também estão a trabalhar nos reatores de quarta geração, que tem como um dos objetivos principais, minimizar os detritos nucleares.