Coronavírus

Entrevista SIC Notícias

Quando devemos desconfinar? Os três fatores essenciais apontados por um médico

José Artur Paiva, do Colégio de Medicina Intensiva da Ordem dos Médicos e diretor da Unidade de Cuidados Intensivos do Hospital de São João, em entrevista na Edição da Noite.

Loading...

José Artur Paiva, diretor da Unidade de Cuidados Intensivos do Hospital de São João, no Porto, disse na Edição da Noite que Portugal está a "caminhar para o planalto" do número de doentes com covid-19 em cuidados intensivos. E acrescentou que está a acontecer de forma "muito heterogénea" em todo o país.

"Estaremos nesta altura muito perto do pico da procura de medicina intensiva", afirmou, acrescentando que os próximos dias vão continuar a ser muito desafiantes.

Devido à sobrecarga dos profissionais de saúde, o também presidente do Colégio de Medicina Intensiva da Ordem dos Médicos apela à "matriz funcional do Serviço Nacional de Saúde" e realça que os hospitais e profissionais em maior sobrecarga devem ser apoiados. Além disso, deve haver equidade no acesso à saúde, referiu.

"Creio que começa a ser evidente que, à custa de um enorme esforço e à custa da sessação de atividade cirúrgica programada da área não covid, o sistema está capaz de responder. Esse deve ser o nosso foco: uma enorme confiança no sistema e um reforço dos nossos profissionais de saúde que têm sido notáveis", afirmou.

Na Edição da Noite, realçou que a transferência de doentes de áreas de maior sobrecarga, referindo-se a Lisboa e Vale do Tejo, para outras regiões tem funcionado "em perfeita segurança", tanto em doentes em enfermaria como nos cuidados intensivos. O médico acrescentou que entre o dia 28 de janeiro e 8 de fevereiro foram abertas cerca de 155 camas de medicina intensiva.

"É preciso um cuidado enorme em não ser precoce no desconfinamento, ser gradual quando o começarmos a fazer e ampliar a testagem e uma capacidade muito grande de promover um sistema de vigilância", disse o especialista.

Esta terça-feira, José Artur Paiva defendeu três critérios necessários para iniciar o desconfinamento: a avaliação da transmissão na comunidade, a carga hospitalar e a capacidade de proteção dos mais frágeis.

Quando à transmissão, o médico considerou que o número de novos casos diários tem de estar "sustentadamente" abaixo dos 2 mil diários, o Rt interior a 0.8 e a taxa de positividade de testes inferior a 5%.

Sobre os hospitais, apontou para menos de 2 mil doentes internados o número de doentes nos cuidados intensivos inferior a 300.

Para a proteção dos mais frágeis, disse que a primeira fase da vacinação tem de estar completa e tem de haver um sistema "robusto" de testagem e um de vigilância a novas variáveis da covid-19.