Crise Migratória na Europa

Migrantes. Espanha avisa que não aceita chantagens da parte de Marrocos

Ministra da Defesa espanhola avisa que a integridade territorial "não é negociável, nem está em jogo".

Migrantes. Espanha avisa que não aceita chantagens da parte de Marrocos
Jon Nazca

A ministra da Defesa espanhola, Margarita Robles, avisou esta quinta-feira que Marrocos deve ter "muito claro" que a Espanha "não vai aceitar chantagens" e que a integridade territorial "não é negociável, nem está em jogo".

Numa entrevista à rádio pública espanhola (RNE), Robles assegurou ainda que Madrid irá utilizar todos os meios à sua disposição para controlar as fronteiras e assegurar o cumprimento do direito internacional.

A responsável governamental também manifestou o seu desejo de que Marrocos respeite as regras do direito internacional, depois de recordar que o que aconteceu esta semana não é apenas uma agressão às fronteiras espanholas, mas também às da União Europeia (UE).

Depois de manifestar o seu orgulho no papel desempenhado pelas Forças Armadas e as forças de segurança do Estado nesta crise migratória, Margarita Robles salientou que demonstraram, uma vez mais, que a Espanha "é um país basicamente humanitário".

Confrontos entre migrantes e polícia durante a noite perto de Ceuta

Perto de Ceuta, durante a noite, houve confrontos entre 300 migrantes e a polícia marroquina. Os migrantes tentaram passar para o lado espanhol, mas não conseguiram.

Começaram a juntar-se durante o dia em Fnideq, uma cidade marroquina a dois quilómetros da fronteira com Ceuta. O objetivo era passar para o enclave espanhol. Mas a polícia marroquina não deixou.

Já de noite, os ânimos exaltaram-se. Os migrantes atiraram pedras, queimaram pneus, incendiaram uma mota. A dada altura, a polícia avançou.

Os migrantes tentaram fugir e subir uma colina com vista para Ceuta, mas ninguém se conseguiu aproximar do enclave espanhol.

Os que nos últimos dias conseguiram chegar a Ceuta sabem que vão acabar por ser deportados e, por isso, também durante a noite, tentaram subir a vedação do porto da cidade para se esconderem nos navios que vão para Espanha. No entanto, a polícia espanhola acabou por chegar e dispersar os migrantes.

Os mais novos que não estejam acompanhados não têm de voltar para Marrocos, mas alguns ainda tentaram fugir dos centros de acolhimento onde estão. Nesses centros, todos os jovens foram submetidos ao teste à covid-19 para despiste de infeções.

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A nado ou em frágeis embarcações, nove mil migrantes já chegaram a Ceuta

A nado ou em frágeis embarcações, os migrantes continuam a fazer-se ao Mediterrâneo e a arriscar a vida, que só têm esperança que se torne digna na Europa. Vêm de Marrocos e da África subsariana, fogem da violência e da pobreza que a pandemia agravou.

Só em dois dias chegaram mais de 9 mil pessoas a Ceuta, um quarto são menores de idade. Para os mais vulneráveis e crianças foi reaberto um campo de acolhimento. Os adultos não têm direito a asilo, cerca de 4.000 migrantes foram devolvidos a Marrocos.

Este intenso fluxo migratório de milhares de migrantes registado nos últimos dias em Ceuta, território espanhol no norte de Marrocos, é apenas um dos aspetos que está a contribuir para a atual tensão diplomática entre Madrid e Rabat. Imagens divulgadas por um canal de televisão de Ceuta sugerem que os guardas fronteiriços de Marrocos fecharam os olhos à vaga migratória e só esta quarta-feira encerraram a passagem de Tarajal.

O ministro marroquino dos Direitos do Homem já disse que Espanha subestimou o preço a pagar por acolher o líder da Frente Polisário, que luta pela independência do Saara Ocidental.

Brahim Ghali, gravemente doente com a doença covid-19, foi internado em abril passado num hospital da cidade espanhola de Logroño, facto que foi apresentado pelo executivo espanhol como um gesto motivado "por razões humanitárias".

Marrocos considerou na altura que a hospitalização de Brahim Ghali, feita alegadamente com recurso a uma identidade falsa e sem o conhecimento das autoridades marroquinas segundo Rabat, era um ato hostil "premeditado" que não devia ser minimizado. Na altura, Marrocos também advertiu que "iria tirar todas as consequências".

No Parlamento, em Madrid, Pedro Sanchéz subiu o tom e disse que a "falta de controlo das autoridade marroquinas não é apenas uma falta de respeito para com Espanha, mas também para com a União Europeia no seu todo".

A Comissão Europeia concorda que a crise migratória é um problema transversal a todo o continente e garante que não vai ser vítima das táticas de ninguém.

"Ceuta é Europa, essa fronteira é uma fronteira europeia e o que se passa não é um problema de Madrid, é um problema de todos" os europeus, disse a vice-presidente da Comissão Europeia, Margaritis Schinas à Rádio Nacional de Espanha (RNE).

A situação na fronteira entre Ceuta e Marrocos é aparentemente mais calma com apenas algumas dezenas de pessoas a tentar chegar a nado ao lado espanhol da fronteira, ao contrário do que aconteceu nos dias anteriores. Ceuta e Melilla, as únicas fronteiras terrestres da União Europeia com África, são regularmente palco de tentativas de entrada de migrantes, mas a maré humana de segunda-feira não tem precedentes.

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"O bebé estava gelado, não se mexia muito. Foi um dia um pouco de loucos"

Um agente da Guarda Civil espanhola atirou-se ao mar para salvar um bebé de apenas meses de vida.

Juan Francisco, do Grupo Especial de Atividades Subaquáticas da Guarda Civil, em entrevista à rádio "COPE", explica que sempre que a Guardia Civil via "uma pessoa com uma criança" ia "de imediato" ter com ela. No entanto acrescenta que por vezes é difícil perceber "se é uma mochila, se é roupa, se é uma criança".

No caso deste bebé de meses, o agente diz que mal o viram perceberam que tinham de entrar na água: "Agarrámos no bebé, estava gelado, não se mexia muito".

Este bebé estava junto à mãe, que o levava às costas, e a Guardia Civil, assim que ela saltou para o mar, foi logo ter com ela, explica Juan Francisco: "O bebé estava praticamente todo dentro de água".

Desde a manhã de segunda-feira, quase 8.000 migrantes entraram no enclave espanhol de Ceuta a nado ou a pé, uma onda migratória sem precedentes.

Cerca de 4.000 migrantes foram devolvidos a Marrocos, tendo o Ministério do Interior espanhol anunciado o envio de reforços da polícia local para fazer frente ao fluxo maciço e repentino de milhares de migrantes no enclave espanhol.

Ceuta e Melilla, as únicas fronteiras terrestres da União Europeia com África, são regularmente palco de tentativas de entrada de migrantes, mas a maré humana de segunda-feira não tem precedentes.

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