Eleições Legislativas

Debate IL vs PAN: a "grande ilusão liberal" e a ausência dos animais

O dia começou com provocações, mas acabou em concordância. Rui Rocha e Inês Sousa Real encontraram-se esta sexta-feira na SIC Notícias para debater crescimento sustentável, salários e educação. As diferenças são maiores que as semelhanças que, a olho nu parecem nulas, mas acabaram por aparecer.

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Rui Rocha e Inês Sousa Real, Iniciativa Liberal e PAN respetivamente, já começaram esta sexta-feira com um clima "quente" com "picardias" nas redes sociais motivados pelo partido das Pessoas Animais e Natureza. Ficou ainda mais no frente a frente na SIC Notícias onde se discutiu a Economia Verde, salário médio e Educação.

O frente a frente inicia-se, mais uma vez, com a situação política tremida nos Açores, onde o PS anunciou esta sexta-feira que não irá viabilizar o Governo minoritário do PSD.

Agora, PAN e Iniciativa Liberal podem fazer parte da solução governativa, ou viabilizadora, para impedir novas eleições açorianas.

“Nós respeitamos a autonomia regional e os nossos órgãos vão pronunciar-se, mas ter sempre presente que o que pretendemos fazer é avançar a causa das pessoas animais e natureza. Não damos cartas em branco a ninguém, da mesma maneira que aconteceu na Madeira”, evidenciou Inês Sousa Real, no início do debate.

Um apontamento, a líder do PAN tentou “imitar” o líder liberal que começa sempre com uma frase sobre como o liberalismo vai “mudar Portugal”.

“Um dia em que fizemos algumas provocações à IL e demonstramos que o liberalismo não funciona e não faz falta a Portugal”, ironizou.

Já Rui Rocha, após repetir a sua frase feita, esclareceu que a posição da IL é “clara” a respeito do Governo dos açores, no sentido em que o partido irá avaliar o programa proposto por Bolieiro e, depois, votar com “responsabilidade” e em função disso.

A Economia Verde

De um lado, algo que é prioritário, do outro, algo que deve ser mais “comedido”.

“Não nos podemos esquecer que, desde da pandemia, a economia verde tem sido a que mais se expandiu a nível mundial, tem dado cartas para o fosso da igualdade de género, temos de garantir que existe investimento nas florestas, canalizando as verbas da PAC. Nós temos de garantir que cada cêntimo é investido na economia verde e não nos combustíveis fósseis”, realçou Inês Sousa Real.

Na sua perspetiva, e contrariando uma posição que o Governo tomou, os 300 milhões de euros dados aos combustíveis fósseis equivaliam a quatro milhões de passes sociais gratuitos “que deviam ter ido para as famílias e não para quem mais lucra e polui”.

“O bloco central e os liberais estão ao lado da banca e não das famílias”, retorquiu.

Já Rui Rocha, que contraria a a tese que os liberais são negacionistas das alterações climáticas, é mais cauteloso a respeito dos passes que se têm de tomar para combater o aquecimento global.

“Se a designação emergência climática for usada para legitimar visões proibicionistas que querem impor um retrocesso às condições de vida que temos, a IL não participa nessa visão, se for para trazer progresso desenvolvimento sustentável, a IL está nessa discussão”, elaborou.

A meio da sua resposta, Inês Sousa Real acusou os liberais de terem uma solução danosa para Portugal: centrais nucleares.

“Onde encaixa as centrais nucleares num país com escassez de água? A IL quer implementar isso com esse problema grave. Não podemos viver num país da ilusão liberal, é enganar as pessoas”, acusou a líder do PAN.

E Rui Rocha voltou a reforçar que a IL recusa “soluções que negam a existência do problema e as visões proibicionistas”, enumerando algumas soluções concretas para o combate ao aquecimento global: energias limpas, simplificar o licenciamento de central energética, ou comunidades de energia para autoconsumo, economia circular.

Depois, o liberal relembrou e agradeceu que Inês Sousa Real tenha lido o programa do partido, tendo em conta que o PAN ainda não disponibilizou o seu, dizendo ser “uma pena” em tom irónico.

Salários Médios

A respeito do crescimento económico e salarial, a IL propõe um aumento do salário médio até 1500 euros até 2028. Mas como é que lá chegam?

“Chegamos lá com descida de impostos, alguém que ganhe hoje 1.500 brutos mensais, com a proposta da IL, levará ao fim de um ano mais 1.500 euros limpos para casa”, simplificou, desviando depois o tema para a Habitação.

Inês Sousa Real, ao ouvir Rui Rocha a enumerar várias medidas para os jovens na ordem dos salários e habitação, interveio acusando, novamente, o líder de “enganar” os portugueses com as ilusões.

“Nós de repente parece que entramos no país da grande ilusão liberal, o que não dizem aos jovens é que votaram contra os apoios sociais ao nível das refeições no Ensino Superior. No pais da IL, o bilhete para este parque de diversões não está ao acesso de todos, é aqui que o Estado Social deve intervir, o liberalismo põe me causa o Estado Social”, comentou.

Após o ataque, a líder do PAN detalhou o que propunha para os salários médios: “os impostos devem ser atualizados à taxa de inflação para as famílias serem aliviadas. Também os mais jovens devem ter apoios na casa própria através do regime bonificado, temos de também de reduzir o IRC para aliviar as empresas para garantir melhores salários”.

Há também benefícios fiscais para as empresas que “tenham boas práticas, como acabar com o gap que existe entre os gestores de topo e ordenados médios das empresas, para termos uma melhor justiça fiscal e tributária”.

Neste sentido, Rui Rocha preparou o contra-ataque, acusando Inês Sousa Real de ser o braço direito do PS.

“Desde de 2019, aprovou todos os Orçamento do Estado do PS, que trouxeram recordes de carga fiscal, fala de escalões, mas em 2022 aprovou um orçamento em que o PS não atualizou os escalões, esteve sempre a lado de António Costa”, ripostou o liberal.

Educação

Por fim, a respeito da recuperação do tempo integral dos professores, os dois partidos acabaram por concordar, sendo o único ponto de encontro.

“A Educação e Escola Pública é um pilar único da nossa sociedade para a igualdade de oportunidades. Para os professores a recuperação do tempo da carreira é estrutural, aquilo que o PAN defende é esperar pelo relatório para com responsabilidade e equilíbrio podermos fazer essa análise de recuperação”, explicou a líder.

Rui Rocha considerou a posição de Inês Sousa Real “sensata” e acompanhou-a na matéria.

O debate terminou, então, num tom diferente. Mas prevê-se que as picardias não acabem.