Eleições Legislativas

Análise

"É muito difícil que o Governo chegue ao final do ano"

Paulo Baldaia, comentador da SIC, entende que a "vitória frágil" da AD "obriga Luís Montenegro a ser muito firme no caminho que traçar". Assegura que a oposição que o Chega irá fazer vai "condicionar muito a ação governativa" do líder do PSD.

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Paulo Baldaia faz o rescaldo da noite eleitoral e antecipa o cenário político para os próximos meses, que pode culminar na dissolução do Parlamento.

Na sexta-feira passada, Marcelo Rebelo de Sousa, numa mensagem dirigida ao país, apelou ao voto e à mobilização dos portugueses no domingo. Ao Expresso, Marcelo já tinha dito que não aceitaria a substituição de Montenegro como primeiro-ministro e que iria fazer o que pudesse para evitar que o Chega chegasse ao poder.

Ambas as declarações foram alvo de críticas, com o PAN a dizer que o chefe de Estado também é responsável pela instabilidade política que vive o país. O Chega também respondeu a Marcelo e pediu esclarecimentos sobre as suas declarações.

Paulo Baldaia acredita que o Presidente da República "é um dos que perdeu com este resultado eleitoral", antes de afirmar que a crítica do Chega às declarações de Marcelo "tem razão de ser".

"[Marcelo deu a entender] que faria tudo o que fosse possível para que o Chega não fizesse parte do Governo. Obviamente que aquelas declarações podiam ter sido entendidas – e eu assim as entendi – como um apelo ao voto útil e, obviamente, nesta área política o voto útil era na AD e, portanto, o resultado foi exatamente ao contrário do que o Presidente gostava que tivesse sido", diz o comentador.

“Não haverá uma moção de rejeição”

Crê que o chefe de Estado irá agora indigitar Luís Montenegro como primeiro-ministro que, posteriormente, irá formar Governo, uma vez que "não haverá uma moção de rejeição".

Por outro lado, se houver uma moção de rejeição aprovada pela oposição, Marcelo "terá uma janela", entre outubro e o verão de 2025, para "poder dissolver o Parlamento". No entanto, destaca que isso só acontecerá se "o Chega e o PS votarem juntos".

O comentador declara que a "vitória frágil" da AD "obriga Luís Montenegro a ser muito firme no caminho que traçar". Prossegue referindo que se o Chega e o PS quiserem derrubar o Governo liderado pelos sociais-democratas, "o melhor momento para o fazer é chumbando o Orçamento do Estado de 2025":

"Para isso, os dois partidos vão ter de trabalhar para não ficarem com o ónus de estarem a derrubar um Governo quando do lado contrário, tendo o poder executivo na mão, aquilo que Montenegro vai fazer é tentar ganhar popularidade".

Chega, “o grande vencedor da noite”

Sobre a vitória histórica do partido liderado por André Ventura, Paulo Baldaia não tem dúvidas: "É indiscutível que o grande vencedor da noite é o Chega".

Acrescenta que a terceira força política sai destas legislativas "com o maior potencial de crescimento" entre todos os partidos. Assegura que a oposição que o Chega irá fazer vai "condicionar muito a ação governativa de Montenegro".

Contudo, para Paulo Baldaia o líder do PSD "tem a faca e o queijo na mão", uma vez que, como irá governar, "pode olhar já para as diferentes corporações da função pública e começar a procurar aí um apoio eleitoral, que vai ser muito importante no curto prazo".

"Olhando para estas janelas é muito difícil que o Governo chegue ao final do ano, muito, muito difícil", atesta o comentador, que explica que o fenómeno do Chega "tem obviamente uma componente nacional, mas faz parte, sobretudo, de uma internacional de extrema-direita que está a crescer em todo o lado".