Quem o conhece classifica-o como inteligente, empenhado, mas ao mesmo tempo reservado. O próprio gostava de levar a cabo - se não estivéssemos a atravessar uma pandemia - uma campanha marcada por mais sorrisos e empatia. Mas o momento é sério.
Tem 42 anos e nasceu em Lisboa. Chama-se João Manuel Peixoto Ferreira e pouco ou nada se sabe sobre a sua vida pessoal.
Licenciou-se em Biologia pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, em 2001, e tirou uma pós-graduação de Atualização em Ciência, Tecnologia e Sociedade, em 2006. Entre 2003 e 2007 foi bolseiro de doutoramento na mesma instituição de ensino.
Trabalhou como consultor na área de estudos e projetos em ambiente, ordenamento e gestão de território e como técnico superior da Associação Intermunicipal de Água da Região de Setúbal.
A militância no PCP começou aos 16 anos, quando integrou a Juventude Comunista. Tem sido uma aposta recorrente do Partido Comunista em várias frentes: como candidato à Câmara Municipal de Lisboa em 2013 e como eurodeputado, desde 2009, sendo cabeça de lista nas duas últimas eleições.
O crescimento dentro do partido valeu-lhe, este ano, a integração na nova Comissão Política do PCP. É, por muitos, apontado como o sucessor de Jerónimo de Sousa.

2014 - A boa disposição entre o secretário-geral do Partido Comunista Português, Jerónimo de Sousa (D) e o candidato da CDU às Eleições para o Parlamento Europeu, João Ferreira, na apresentação do candidato no Hotel Altis em Lisboa.
LUSA
Atualmente, exerce funções como eurodeputado e como vereador na Câmara Municipal de Lisboa sem pelouro. Apresenta-se agora como candidato às eleições presidenciais, apoiado pelo PCP e PEV.
Em 2013, foi premiado como "Embaixador do Desenvolvimento", pelo Instituto Marquês de Valle Flôr, pelo seu papel na "promoção de políticas europeias mais justas e coerentes”.
O percurso no Parlamento Europeu
Chegou ao Parlamento Europeu em 2009, com 30 anos, onde se mantém até agora. Já lá vão 12 anos de trabalho em Bruxelas.
O comunista é vice-presidente do Grupo Confederal da Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Verde Nórdica, e membro de várias Comissões, como: Pescas, Transportes e Turismo, Ambiente, Saúde Pública e Segurança Alimentar e Assuntos Constitucionais. Já tinha integrado as Comissões da Indústria, Energia e Investigação e Orçamentos.
ANTÓNIO PEDRO SANTOS
Constituição no centro das atenções
João Ferreira assume-se como um candidato que quer cumprir a Constituição. Disse-o, aliás, em vários debates televisivos.
“[Não abdicaria] "de nenhum dos poderes que o Presidente da República tem para garantir a resposta aos problemas pendentes que o país enfrenta e uma resposta em conformidade com a Constituição”, afirmou.
Até a deputada do Partido Socialista, Isabel Moreira, - que anunciou o voto em João Ferreira nas presidenciais - garantiu, numa entrevista ao Público, que o comunista “é o candidato que está melhor colocado nesse compromisso de respeito integral pela Constituição".
Facto é que o Partido Comunista votou, ao longo de décadas, contra as revisões constitucionais, tendo-se abstido em apenas uma. Mas para João Ferreira isso tem uma explicação.
“A Constituição foi sucessivamente empobrecida e até amputada de aspetos que continha na sua versão original e não ganhamos com isso”, afirmou numa entrevista ao Diário de Notícias.
No entanto, admite que ainda hoje a Constituição contém um sentido geral e um projeto de desenvolvimento onde é possível encontrar respostas para a situação que o país enfrenta.

RUI MINDERICO
O fim da precariedade
Legislação Laboral, Saúde e Habitação são as principais bandeiras do candidato do PCP. Antes mesmo de anunciar oficialmente a candidatura, João Ferreira prometeu que estará “onde faltaram os Presidentes da República: junto dos trabalhadores e do povo, nas suas lutas pelos seus legítimos direitos, interesses e aspirações.
Durante a campanha, o candidato já defendeu a urgência de criar um nova lei na área da habitação, que garanta a senhorios e inquilinos segurança nos contratos. Caberá, a seu ver, ao Presidente da República empenhar-se na prevalência do direito à habitação sobre o direito ao negócio imobiliário.
Uma das máximas do Partido Comunista é e sempre foi os direitos dos trabalhadores. João Ferreira considera que as alterações à legislação laboral como, por exemplo, o alargamento do período experimental, promulgadas por Marcelo Rebelo de Sousa levaram milhares de jovens para o desemprego durante a pandemia de covid-19.
Em relação à saúde, o candidato repudia qualquer intenção de fazer negócio com a doença, apontando, mais uma vez, o dedo ao atual Presidente da República que aprovou a nova Lei de Bases da Saúde, que abre a porta aos privados.
Presidência da República
João Ferreira foi o primeiro candidato a entregar 15 mil assinaturas no Tribunal Constitucional (TC) e a formalizar a candidatura à Presidência da República.
"Diria que [as 15 mil assinaturas reunidas] são uma expressão do apoio a esta candidatura, que é ela própria uma manifestação de confiança no povo português e uma afirmação de esperança na vida deste país”, afirmou à saída do TC.
O comunista enfrenta a dura tarefa de erguer o partido, depois de há cinco anos Edgar Silva, candidato presidencial, ter registado o pior resultado de sempre com apenas 3,85% dos votos.
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