Esquecidos

Superar tabus por uma saúde sexual positiva para as mulheres

Quando se assinala o Dia Internacional da Mulher, damos a conhecer projetos da Médicos Sem Fronteiras em diferentes países, que mostram que o fortalecimento das capacidades de agir e de decidir das mulheres e o apoio comunitário podem trabalhar em prol das necessidades da saúde sexual e reprodutiva, com impacto em toda a sociedade.

Superar tabus por uma saúde sexual positiva para as mulheres
Dorothy Meck/ MSF

A boa saúde sexual e reprodutiva é importante para a qualidade de vida de todas as pessoas, porém existe uma miríade de desafios para a assegurar a mulheres e raparigas cisgénero e transgénero em todo o mundo.

Contraceção, proteção das infeções sexualmente transmissíveis, cuidados maternos, cuidados de aborto seguro, aconselhamento e ferramentas de auto-cuidados – todos são importantes facilitadores para as mulheres terem uma vida sexual ativa e positiva, livre de sofrimento físico ou psicológico. Mas tabus e receios nas comunidades em geral, em amigos e familiares, até mesmo nas próprias mulheres, lançam uma carga negativa, criando barreiras ao bem-estar das mulheres.

Mulheres solteiras, adolescentes e raparigas, trabalhadoras do sexo, mulheres da comunidade LGBTQI+ ou quem vive já numa situação de estigmatização podem ser particularmente excluídas de obter informação, cuidados e apoio.

Nos anos recentes, a Médicos Sem Fronteiras (MSF) tem abordado estas questões de formas cada vez mais diversas. Projetos desenvolvidos pela organização médico-humanitária na Grécia, nas Honduras e no Zimbabwe mostraram que o fortalecimento das capacidades de agir e de decidir das mulheres e o apoio comunitário podem trabalhar em conjunto e de forma muito próxima para facilitar um envolvimento positivo com as necessidades de saúde sexual e reprodutiva das mulheres, de uma forma que se repercute em todo o tecido social.

Em cada um destes países, mulheres, raparigas, homens, mães e pais e vizinhos têm histórias admiráveis para partilhar sobre a participação e o impulso que dão a essas mudanças.

Fazer-se ouvir pelas mulheres transgénero que procuram asilo

A perseguição desde há muito que leva pessoas a procurarem asilo longe de casa, como acontece com a pequena comunidade de mulheres transgénero que, ao longo do tempo, fugiram de Cuba para a Grécia em busca de segurança. Apesar de estas mulheres estarem agora seguras, elas continuam a debater-se com dificuldades para aceder a cuidados de saúde nos novos locais onde vivem.

“A maior parte das pessoas trans que vieram para aqui não têm nenhuns medicamentos. Sucede-lhes terem doenças sexualmente transmissíveis – é assim a vida. Mas é-lhes muito difícil obterem apoio médico”, conta Yuli, uma defensora da sua comunidade de mulheres transgénero.

Desde 2016, a MSF opera em Atenas um Centro de Dia de cuidados em regime ambulatório, onde atualmente é disponibilizado um pacote abrangente de serviços multidisciplinares para pessoas migrantes, requerentes de asilo e refugiadas e para grupos de pessoas marginalizadas que precisam de cuidados de saúde. Todas as atividades feitas neste centro são apoiadas por uma numerosa equipa de mediação cultural, incluindo para tradução, a qual também junta esforços com a equipa urbana de sensibilização e proximidade, de forma a estender aqueles serviços tanto quanto possível a comunidades como a de Yuli.

E Yuli chamou a si mesma a missão de encorajar e motivar as outras pessoas da comunidade dela a darem prioridade à saúde sexual e a protegerem-se a si mesmas.

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Defender a saúde sexual das trabalhadoras do sexo

Para as trabalhadoras do sexo em San Pedro Sula, nas Honduras, o acesso a cuidados médicos e psicológicos tem sido limitado pelo estigma social e pela falta de serviços inclusivos.

O juízo que é feito pela sociedade tem-se refletido na atitude de profissionais de saúde que se comportam com desdém, em vez de fazerem com que as trabalhadoras do sexo se sintam bem-vindas quando procuram informação, proteção para as infeções ou tratamento.

A Médicos Sem Fronteiras abriu a Clínica de San Pedro Sula em julho de 2021 com o objetivo de melhorar o acesso a cuidados para trabalhadoras do sexo e para a comunidade LGBTQI+.

Nadia, que visita esta clínica há quase dois anos, descreve que “foi uma benção encontrar a clínica da MSF”. “Aqui encontro tudo: prevenção e controlo do VIH, da sífilis e doenças sexualmente transmissíveis, planeamento familiar... apoio psicológico e assistência social.”

Equipas da MSF de sensibilização e proximidade também visitam a comunidade de San Pedro Sula, para ajudar a superar desconfianças e desinformação. “Pessoalmente, sofri demais durante o tempo em que não cuidava de mim mesma. Percebi que tudo tem um custo e que cuidar de mim não tem preço”, explica Nadia.

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Inclusão de mães-adolescentes nos cuidados de saúde e apoio social

Para as adolescentes no Zimbabwe ficar grávida é um tabu, mas muitas vezes é pouca ou mesmo nenhuma a influência que têm nas decisões que afetam os corpos e as vidas delas. E também têm muito pouco ou nenhum acesso a informação e serviços adequados, além de serem dissuadidas de os procurarem.

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Em 2020, com os confinamentos da covid-19 a encerrarem escolas e a limitarem o trabalho, rendimentos e as deslocações, verificou-se um aumento de gravidezes não planeadas no Zimbabwe – e na comunidade em redor do programa da MSF de saúde sexual e reprodutiva para adolescentes em Mbare e Epworth. Para dar resposta às necessidades específicas das raparigas grávidas, a equipa da organização médico-humanitária criou o Clube de Mães Adolescentes.

Quando Marvellous engravidou, mesmo antes do início de um novo ano escolar, a família da adolescente ficou chocada. “Eu não sabia o que fazer nem a quem recorrer”, recorda. Mas descobrir que o clube existia deu-lhe a oportunidade de conhecer outras raparigas como ela, aprender sobre os riscos associados a uma gravidez precoce e adquirir conhecimento sobre temas como a contraceção, sexo seguro e gravidez. Inspirada pelas experiências ali vividas, Marvellous é agora educadora de pares neste clube.