Guerra Rússia-Ucrânia

Wagner e Putin: "Nada disto significa que a Ucrânia venceu"

Putin, Wagner,Turquia e Ucrânia são os eixos em análise pelo correspondente SIC, José Pedro Tavares, e Daniela Nunes, especialista em política. Putin está frágil, Wagner pode desaparecer, Turquia apoia Rússia em desespero e Ucrânia descansa durante umas horas.

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A marcha do grupo Wagner na Rússia mexeu com o palco internacional durante quase 24 horas. No entanto, tudo acabou num acordo que, faz com que tudo tenha de ser repensado. José Pedro Tavares, correspondente SIC, comenta a implicação da Turquia nestes dias, para se salvuaguardar, e Daniela Nunes frisa que Putin se expôs demasiado.

Apesar da pouca duração, uma coisa é certa: foi um dia histórico pelo primeiro desafio evidente à autocracia que Putin instituiu na Rússia, conforme explica Daniela Nunes, doutoranda do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica.

"Em 20 e muitos anos nunca tinhamos assistido a uma tentativa tão nítida de encostar o presidente à parede e nunca tinhamos assistido uma resposta tão rápida e emocionada, do ponto de vista da irritação e de não esconder, o que revela a seriedade da situação. É um dia que marca uma fragilidade que ficou á vista de todos e não sabemos muito bem como o presidente vai colmatar, porque ele sabe que está frágil e que se expôs", explica Daniela Nunes.

Apesar disto, é necessário ter cautela ao analisar e a extrair conclusões, segundo a especialista, tendo em conta que existe uma forte possibilidade da marcha e do quase conflito gerado em território russo ter sido uma encenação.

“Revelou fragilidades que iam deixar marcar histórica, portanto se é uma encenação ainda não estamos em posição de perceber o objetivo. Para já, parece-nos deslocado da realidade e compreender”, refere.

Do outro lado do conflito interno, houve quem quisesse aproveitar para marcar ainda mais a sua posição perante as relações diplomáticas que detém e o que precisa delas. Neste caso, o presidente Turco colocou-se ao ladode Putin e manifestou total apoio, segundo conta o correspondente SIC na Turquia, José Pedro Tavares.

“Isto tem algum significado. Erdogan retribui aquilo que Putin fez há sete anos quando houve um golpe de Estado falhado. Erdogan telefonou a Putin, numa clara mensagem de apoio político”, esclarece.

José Pedro Tavres enumera três razões para esta intervenção de Erdogan:

  • ambos se dão muito bem, sendo autocratas, nacionalistas e tendo profunda desconfiança no Ocidente
  • uma mudança de regime seria catastrófica para a Turquia, pela grave crise económica que atravessa e a necessidade de gás natural que Putin oferece
  • Erdogan não gosta de Wagner, porque estão barricadas opostas em conflitos regionais, como a Síria

No que diz respeito à Ucrânia, Daniela Nunes confia que estas poucas as horas podem ter sido importantes para as tropas ucranianas, nem que seja para baixarem a guarda do que tem sido fogo aberto durante 16 meses.

"Do ponto de vista da moral é obviamente motivo para estar satisfeito, porque quando não é preciso fazer nada parra que o inimigo esteja instável, tanto melhor. As tropas ucraniansa tiveram uma janela de 24 horas para descansar e preocupar menos em perturbar o inimigo e fazê-lo vergar-se, os russos conseguiram fazer isso a eles próprios", analisa a especialista.

No entanto, Daniela Nunes acautela e refere que “nada disto significa que a Ucrânia venceu, nada disto significa um caminho para a vitória”.

Por fim, o que acontecerá ao grupo Wagner, após ter sido feito um acordo entre as partes?

“Aparentemente o acordo sugere os que participaram vão ser amnistiados e terão de ir para a Bielorússia e os que não participaram irão ser contratados pelo exército regular russo, mas até que ponto não enfraquece. O que acontece tamb´me às várias milicas Wagner noutros países?”, questiona José Pedro Tavares.

O correspondente SIC relembra que este acontecimento expôs ainda mais as fragilidades da mília russa - que já se desconfiavam - tendo em conta que “em 24 horas a mílicia Wagner avançou centenas de quilómetros no terreno russo, sendo muito mais do que as tropas russas conseguiram em 16 meses na Ucrânia”.