O paradeiro do líder do grupo Wagner é incerto, mas o silêncio foi quebrado esta segunda-feira. Garantindo que não era objetivo da rebelião tomar o poder, Prigozhin esclarece que decidiram fazer marcha-atrás devido a "dois fatores" e que o Presidente da Bielorrússia, Aleksandr Lukashenko lhes “estendeu a mão” e evitou o derramamento de sangue.
A intenção da marcha, que designa por “marcha da justiça”, o objetivo era salvar a Wagner, que corria “o risco de ser liquidada e assimilada pelo Ministério russo da Defesa”, diz Prigozhin numa mensagem áudio de cerca de 11 minutos.
Perante esta ameaça, “foi tomada a pior das decisões. Juntámos armamento e se não aceitassem a nossa proposta, de sair no dia 30 de junho, uma coluna rumaria a Rostov para entregar o publicamente o armamento ao poder. (…) Não manifestámos qualquer tipo de agressão mas fomos atacados por mísseis e depois por helicópteros. Morreram cerca de 10 soldados mercenários de Wagner e há muitos feridos”.
Foi então que, diz Prigozhin, “foi decidido avançar”, mas “não queríamos agredir ninguém”, exceto “se fôssemos atacados”.
“Durante toda a marcha [pela Rússia] que demorou 24 horas, uma das colunas dirigiu-se a Rostov e outra a Moscovo, num dia percorremos 750 quilómetros, e ninguém foi assassinado na terra. Lamentamos ter sido obrigados a atacar os meios aéreos que mandavam bombas e mísseis contra nós. (…) a 200 e poucos quilómetros de Moscovo (…) parámos no momento em que a demonstração que já tínhamos feito era suficiente e decidimos voltar para trás por dois fatores: não queríamos derramar sangue russo e queríamos apenas demonstrar o nosso protesto e não para derrubar o poder do país", afirma.
Foi nessa altura, diz, a cerca de 200 quilómetros da capital russa que “Lukashenko nos estendeu a mão e propôs encontrar uma via para trabalho posterior da Wagner”. Mas, esclarece Prigozhin, “ninguém assinou nenhum acordo com o ministro da Defesa”.
Prigozhin não deixa, ainda assim, de salientar que: “A nossa marcha da justiça mostrou que há problemas de segurança em todo o país. Bloqueámos todos os quartéis e aeródromos que encontramos pelo caminho. Durante 24 horas fizemos um percurso que corresponde à distância entre as tropas russas no dia 24 de fevereiro até Kiev”.
“Por isso, se as ações desse dia [24 de fevereiro de 2022] tivessem sido comandadas por unidades conscientes e preparadas como a Wagner, a operação especial contra a Ucrânia duraria dias”, afirma.
O líder do grupo Wagner destaca também que o ato de rebelião que protagonizaram mostrou à Rússia, e ao mundo, “o nosso nível de organização e responsabilidade”, bem como o apoio dos cidadãos russos que os receberam ”felizes e com bandeiras da Rússia e da Wagner".
Mais, refere Prigozhin, os cidadãos ficaram “desiludidos por termos parado porque viam em nós apoio na luta contra a burocracia e outros males que existem na Rússia".
Rússia: 24 horas em alerta máximo
Vários desentendimentos entre o líder do grupo Wagner e as chefias militares russas, que se foram agravando ao longo da guerra, transformaram-se num motim que levou os mercenários a deixarem a Ucrânia na noite de sexta-feira para se apoderarem de um quartel-general militar numa cidade do sul da Rússia.
Em reação, o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, qualificou de rebelião a ação do grupo, afirmando tratar-se de uma "ameaça mortal" ao Estado russo e uma traição, garantindo que não iria deixar acontecer uma "guerra civil".
Após percorrerem sábado centenas de quilómetros em direção a Moscovo, aparentemente sem oposição para além de alguns ataques aéreos a que foram ripostando, os mercenários cessaram a marcha a cerca de 200 quilómetros da capital russa.
O Kremlin afirmou ter feito um acordo para que Prigozhin se mudasse para a Bielorrússia e que fosse amnistiado, juntamente com os seus soldados. Acordo esse, que o líder do grupo Wagner negou há momentos.
O paradeiro de Prigozhin permanece desconhecido, embora um canal de notícias russo na rede social Telegram tenha revelado que foi visto num hotel em Minsk, capital bielorrussa.
[Notícia atualizada às 17:06]