Guerra Rússia-Ucrânia

“Agora pintam o sol e o arco-íris”, sinais de esperança surgem nos desenhos das crianças ucranianas

Numa escola da capital da Ucrânia onde as crianças são muito estimuladas a desenvolver a expressão artística, uma professora de Educação Visual traça a evolução do estado emocional dos seus alunos, através dos trabalhos que têm realizado desde 2022.

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Três anos após o início da guerra, as crianças ucranianas aprenderam a viver com maior ansiedade. As autoridades registam um aumento no número de menores com acompanhamento na área da saúde mental. Com o apoio da escola e de atividades artíticas, há crianças que denotam melhorias na forma como estão a lidar com a guerra, manifestanto nos últimos tempos mais otimismo e esperança no futuro.

“Eles costumavam pintar principalmente tanques, aviões, bombardeamentos. Agora pintam o sol, o arco-íris, as flores e algo lindo... Eles querem vitória, alegria, primavera e calma”, disse Valentyna, em entrevista à Reuters.

Valentyna Maruniak é professora de Educação Visual numa escola de Kiev e traçou a evolução do estado emocional dos seus alunos, através dos trabalhos que têm realizado desde 2022.

Quando Valentyna pediu à turma que desenhassem os momentos mais memoráveis ​​da invasão, que durou um terço das suas vidas, alguns retrataram viagens durante as férias escolares ou celebrações de Natal.

Outros trouxeram memórias desejadas de tempos de paz ou de pessoas próximas que participam na guerra.

Durante uma aula, à qual os repórters da Reuters asistiram, no início deste mês, Solomiia Karanda, de 8 anos, pintou uma paisagem: um avião sobre uma aldeia no sul da Ucrânia, onde costumava visitar a avó, que fugiu devido à guerra.

"Um míssil atingiu a casa da minha avó, mas agora está a ser reconstruída", disse Solomiia. "Ela ficou com medo e foi morar na Roménia," acrescentou.

Quando passam três anos do início da invasão da Rússia, esta menina de 8 anos continua a ficar inquieta quando fica sozinha em casa durante alertas aéreos.

"Normalmente fecho a porta do meu quarto e vou para a cama com os meus brinquedos. Isso torna tudo menos assustador," conta Solomiia.

Nikita Bondarenko, também de 8 anos, colega de Solomiia, aprendeu a esconder-se atrás da mais grossa do apartamento, com a sua irmã mais nova, revelou o menino, enquanto desenhava um tanque inspirado nas histórias do seu pai, militar que combate nas forças armadas ucranianas.

Problemas mentais triplicaram, mas escola ajuda a projetar calma e otimismo

Mais de 50 mil crianças com problemas de saúde mental procuraram ajuda profissional nos primeiros nove meses de 2024 – três vezes mais do que em 2023 – segundo dados fornecidos à Reuters pelo Ministério da Educação e Ciência da Ucrânia.

Liudmyla Yaroslavtseva, diretora da escola de Kiev, tenta projetar calma e uma atitude positiva, sabendo como as crianças são sensíveis. Contudo, a professora sabe que "não conseguem protegê-los de tudo".

"Falamos sobre coisas que talvez não tenhamos discutido com as gerações anteriores. Mesmo quando se trata do tema do Holodomor, explicamos às crianças mostrando-lhes um desenho animado ou algumas fotografias e a estas crianças dizemos: 'Desculpa, mas podemos estar a enfrentar este tipo de problema novamente'," realçou Liudmyla à Reuters.

Holodomor é um termo ucraniano que significa “morte pela fome” e que passou a estar associado ao genocídio da população da Ucrânia, ocorrido entre os anos de 1931 e 1933, durante o processo de coletivização forçada dos campos agrícolas do território, então sob o domínio da então União Soviética, liderada por Joseph Stalin.