Um palco-altar, um altarzão e um altarzinho
Foi no final de janeiro que a Jornada Mundial da Juventude, até então pouco falada, passou a estar no centro do debate. A notícia de que a construção de um altar para o Papa custaria mais de 4 milhões de euros caiu com estrondo. O projeto foi apresentado a 25 de janeiro e, para além da construção do altar-palco, incluía também a criação do Parque Urbano Tejo-Trancão, um investimento total de 21,5 milhões de euros.
Os portugueses, cuja relação com a Igreja já viu melhores dias, ficaram revoltados e indignados. Como se justificavam gastos de milhões em infraestruturas para receber a Jornada Mundial da Juventude quando Portugal continuava a apresentar problemas na saúde, educação e habitação?
O Presidente da República não se demorou a pedir mais explicações e os intervenientes não se demoraram a apresentá-las. O Presidente da Câmara de Lisboa disse que a Jornada “ia ficar muito cara” e que os custos tinham origem nas "especificações da Igreja e da Santa Sé". Sobre a construção do Parque Tejo, a Câmara de Lisboa justificou o investimento com o interesse de promotores para a realização de "grandes eventos internacionais", ou seja, o objetivo era capitalizar o espaço para eventos no futuro.
A versão de Moedas viria a ser colocada em causa, dias depois, a 26 de janeiro por José Sá Fernandes, coordenador do grupo de projeto de preparação Jornada Mundial da Juventude, que revelou, numa entrevista à SIC Notícias que havia uma opção dois milhões de euros mais barata que a Câmara excluiu.
Depois de dias e dias de discussões e de irritações (Carlos Moedas chegou a questionar: "Os portugueses querem ou não o Papa em Lisboa?"), soube-se, no início de fevereiro, que os custos iam ser reduzidos.
Inicialmente, estava previsto que o altar-palco (com nove metros de altura e capacidade para 2.000 pessoas) custasse 4,24 milhões de euros (mais IVA) e fosse construído pela Mota-Engil. Depois da polémica, o valor passou para 2,9 milhões de euros.
O Presidente da Fundação JMJ, Américo Aguiar, chegou a afirmar mais recentemente que, se o tempo voltasse atrás, tinha feito algumas coisas de forma diferente.
"[O altar-palco] Podia ter sido mais baixo e mais pequeno desde o primeiro momento. Não foi? Não há que se lhe faça, não é? Aprendemos, aprendemos. Agora vão dizer que está baixo, está pequeno. É possível que sim, é possível que sim, eu já aprendi", afirmou, em tom de desabafo.
Mas não foi só o altar-palco no Parque-Tejo que deu que falar. O segundo palco, no Parque Eduardo VII, veio adensar o sentimento de choque e revolta. Apesar de o projeto ter sido rejeitado quatro vezes pela Câmara Municipal de Lisboa, o facto de ter existido um plano para a sua construção foi o suficiente para causar alarme, inclusive do Presidente da República.
A 26 de janeiro, o Expresso avançava que existia um plano para ser construído um palco no Parque Eduardo VII que podia custar cerca de 2 milhões de euros. Face aos custos, Marcelo Rebelo de Sousa sugeriu que fosse montado “altarzinho”. E o projeto de um “altarzão” com uma longa escadaria e um cenário composto por um conjunto de torres brancas acabou mesmo por cair por terra. Os custos foram reduzidos e limitados a 450 mil euros.
Voluntários têm de pagar?
Os voluntários da Jornada Mundial da Juventude têm de pagar para participar no evento. Nas redes sociais, houve quem não concordasse com o modelo adotado pela JMJ.
A Igreja, por seu lado, defende-se, argumentando que “a JMJ é construída com a generosidade de todos e é por isso que é pedido que todos contribuam com um valor”.
Em Portugal, os voluntários podiam inscrever-se num de quatro pacotes disponíveis. O mais barato, que inclui alimentação, transporte, seguro e kit do voluntário, custa 60 euros. Já o mais caro, que inclui alojamento, alimentação, transporte, seguro e kit do voluntário, custa 145 euros.
Selo que fazia lembrar o Estado Novo? Não durou dois dias
O selo e o carimbo comemorativos da Jornada Mundial da Juventude foram apresentados pelo Vaticano no dia 15 de maio. Horas depois, a imagem do selo já circulava pelas redes sociais e as associações feitas não eram positivas. Houve quem relacionasse a imagem ao imaginário gráfico do Secretariado de Propaganda Nacional do Estado Novo e para o colonialismo.
A ilustração foi feita por Stefano Morri, um artista italiano que tem feito vários trabalhos para o Vaticano, principalmente selos de correios. O desenho remetia para o Padrão dos Descobrimentos, com o Papa no no lugar do Infante D. Henrique. Em vez de navegadores, está um grupo de crianças e jovens, com uma mochila e a bandeira portuguesa.
O site de notícias do Vaticano, Vatican News, explicou que o objetivo da representação era mostrar o Papa Francisco, como se estivesse na proa de um barco, a guiar os jovens e a Igreja Católica para o futuro.
Depois da polémica que causou, a 17 de maio, o selo foi retirado de circulação.
“O pirilau” de Lisboa
A Jornada Mundial da Juventude vai também passar pelo Parque Eduardo VII, onde estava uma obra, com uma forma fálica, do escultor João Cutileiro. A estátua está desde 1997 no topo do Parque, em Lisboa, e representa a virilidade e a solidez da coragem dos Capitães de Abril.
A Câmara Municipal de Lisboa informou que o monumento precisava de obras urgentes e admitiu que podia ser tapada durante o evento, negando, no entanto, que a estivesse a esconder do Papa Francisco.
Dois dias depois de ter a SIC Notícias ter noticiado que a obra seria tapada durante a JMJ, a Câmara esclareceu a polémica. Alegou à CNN Portugal que se estava a “realizar uma intervenção de conservação e restauro de alguns dos elementos constituintes da peça" e que, por isso, alguns elementos foram desmontadas "para restauro" e só regressam ao Parque Eduardo VII depois da Jornada Mundial da Juventude.
Eixo Norte-Sul vai ser ou não cortado?
Já mais perto do início da Jornada Mundial da Juventude, numa altura em que começam a ser conhecidos os planos de mobilidade, de segurança e de saúde, o diretor nacional da Polícia de Segurança Pública anunciou que o Eixo Norte-Sul, uma das principais artérias de Lisboa, seria cortado “total ou parcialmente”.
Magina da Silva informou que o Eixo Norte-Sul estava a ser visto como uma solução para estacionar os milhares de autocarros que vão transportar os peregrinos.
Um dia depois, a 16 de junho, José Sá Fernandes negou, em entrevista à SIC Notícias, que o Eixo Norte-Sul seria cortado durante o evento. No entanto, o coordenador da Jornada Mundial da Juventude admitiu que haverá artérias fechadas na capital.
"O Eixo Norte-Sul nunca esteve numa hipótese hipotética para estacionamento, quanto muito foi para largada e saída de passageiros", disse.

PSP com protestos criativos e bombeiros preocupados
Duas das autoridades mais importantes para que tudo corra bem na Jornada Mundial da Juventude têm demonstrado algum desagrado com a organização. O Sindicato Nacional da Polícia (ASPP), por exemplo, vai realizar diariamente, entre 31 de julho e 6 de agosto, várias ações de protesto, como a entrega de folhetos nos aeroportos de Lisboa e Porto.
A ASPP anunciou a realização de iniciativas "inovadoras e bastante criativas durante, antes e depois" da JMJ, tanto em Lisboa, como junto dos comandos e das dioceses que vão organizar eventos. Os polícias justificam-se com a falta de diálogo com o ministro da Administração Interna.
Já os bombeiros mostram-se “muito preocupados” com a falta de diálogo com a Proteção Civil. A Liga dos Bombeiros Portugueses exige "um plano de subvenção para com as associações humanitárias de bombeiros voluntários e para com os bombeiros especificamente para o evento".