Mundo dos Animais

Testemunho

"Enfiei o gatinho dentro do casaco e entrei no supermercado com ele escondido"

A Sheilha tem 15 anos. É uma gata que foi abandonada no Monte Brasil, ilha Terceira, nos Açores. Era desconfiada, assustada e levou muito tempo a confiar em nós. Maria Callas é uma gatinha, brincalhona e faz um rebuliço numa casa.

"Enfiei o gatinho dentro do casaco e entrei no supermercado com ele escondido"

Tenho uma amiga muito generosa que todos os dias e há muitos anos trata dos gatinhos abandonados no Monte Brasil. A Manela cuida, alimenta, proporciona assistência veterinária e até convenceu a Autarquia de Angra Heroísmo a fazer casas de abrigo para os bichinhos. Estamos a falar de cerca de 20 a 25 gatos assistidos pela minha amiga diariamente com ajuda da Ana Teresa.

A Sheilha, entre outros gatinhos que adotei, foi especial, olhava-me com profundidade dos seus olhos grandes. Levei-a para casa. A adaptação foi difícil, estava muito ressentida pelo fato de ter sido abandonada, e não confiava em ninguém.

Protegida dentro de um armário, saía por breves momentos para alimentar-se. Aos poucos adquiriu confiança em mim e na nossa família. Os seus olhos grandes continuam a olhar para mim de forma reconhecida e agradecida. Os seus olhos grandes dizem que nunca teria uma vida tão longa e feliz se eu não a tivesse adotado.

Sheilha

Os meus olhos grandes, como os da Sheilha, dizem que eu, que sempre gostei de animais, sou mais feliz, e que a minha sensibilidade e atitude para com os animais é infinita.

A Sheilha espera por mim em todos os cantos da casa, responde na sua linguagem aos meus afetos, aos meus dias bons e aos menos bons. Não se queixa, nem sequer ao frio de Lisboa que não gosta, por isso tem um botija de água quentinha sempre por perto. Viaja comigo e porta-se bem no avião.

No início do mês de dezembro foi mordida por cães, uma porta mal fechada inadvertidamente do quintal foi o motivo.

Apesar da sua fragilidade e idade avançada conseguiu esconder-se, mesmo depois de ter sido atacada. Muito doente e assustada olhou-me com os seus olhos grandes, tentou saltar para o meu colo e não conseguiu. Gemia e miava de dores, coitadinha. Pensei que a Sheilha ia morrer.

Chegamos a Lisboa e foi internada no hospital veterinário com uma grave infeção. Recuperou não sei como, do alto da sua proveta idade, e após os tratamentos ficou bem de saúde.

Os animais são como nós, sentem dor, sofrem, adoecem e alguns têm sorte.

No dia 10 dezembro de 2023 na minha habitual caminhada pelo Monte Brasil, ouvi um gatinho aflito e desesperado a miar imenso. Estava acompanhada pela Magui e pela Loura. Uma cadela labrador e uma Cocker Spaniel abandonados e adotados por mim há muito tempo. No momento não consegui controlar a situação e tive de ir embora.

Desci o Monte Brasil para arrumar os cães no carro e assim poder voltar ao sítio e acudir o gatinho que me pedia ajuda. Não foi preciso, atrás de mim, quase por magia estava o gatinho que me tinha seguido o tempo todo, pois queria mesmo saber o motivo de eu o ter ignorado.

Trouxe o gato ao colo numa condução difícil com os cães muito desassossegados.

Enfiei o gatinho dentro do casaco do fato de treino e entrei no supermercado com ele escondido. Rezei para que não miasse, senão seríamos os dois postos na “rua “e no carro ele não podia ficar com os cães. As minhas rezas não resultaram e o gatinho que estava esfomeado miou e nunca se calou. Um funcionário do hiper ainda disse - ouvi um gato a miar. Eu respondi - “deve ser impressão sua “… aqui não “há gato“.

O bichinho não se calava de tanta fome e tão assustado que estava. Então tive de confessar o meu segredo e de contar a minha história à funcionária do supermercado.

Uma pessoa fantástica que encontrei ali mesmo que, como eu, gostava de animais.

O segredo ficou entre nós, a funcionária ajudou-me rapidamente a comprar comida e sai com o gatinho dentro do casaco já com a cabecinha de fora…

Dei-lhe logo comida pois ainda me faltavam sete quilómetros para chegar a casa. Perante as minhas ameaças os cães calam-se e assim chegamos a casa.

Depois de todos os procedimentos legais, chip, boletim de vacinas, passagem aérea e cartão de embarque, veio comigo para Lisboa.

É uma gatinha, chama-se Maria Callas, é brincalhona e faz um rebuliço numa casa e conseguiu tirar as bolas da árvore de Natal e os personagens do meu presépio.

A Sheilha não gosta dela pois devido à grande diferença de idades a pequenina quer brincar a mais velha não está para brincadeiras.

Texto enviado por Maria Paula Velosa

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